Edição e revisão: Marsel Botelho
As melodias de Rondon vestidas por parceiros poetas são verdadeiros balsamos para ouvidos aguçados
Entre
tantos trabalhos maravilhosos que chegam para minha apreciação, abro o “sedex”
que chega do Pantanal – Mato Grosso e, para minha alegria, é o novo CD do compositor,
violonista e cantor paulista Guilherme Rondon, “Melhor Que Seja Raro”, recente
álbum do músico, que foi criado em terras pantaneiras, lugar que escolheu para
ser sua morada. Rondon é um criador de melodias e agregador de poetas que as
vestem. O CD apresenta 13 temas e foi produzido pelo próprio músico em parceria
com Alex Cavallieri.
“Brincadeira
na beira do mundo/Quem não sabe não faça/Coração quanto mais é profundo a
saudade não passa, é .../Nem sempre a verdade que o amor me diz me deixa feliz”:
esses versos compõe a canção “Brincadeira na beira” (Guilherme Rondon e
Alexandre Lemos), que abre o álbum. Guilherme
faz dueto com Léo Minax e nos convida a uma audição rica em melodia e poesia. A
canção que dá título ao CD, denominada “Melhor Que Seja Rara” (Guilherme
Rondon/Zélia Duncan), é de uma delicadeza única e nela os violões dão as boas-vindas
com uma introdução que nos remete aos encantadores versos, poeticamente bem
elaborados, de Duncan. Voz, piano, baixo e “cello”: esse refinado quarteto nos
apresenta a bela “De Que Reino Sou Rei” (Guilherme Rondon/Iso Fischer). A
interpretação de Rondon é sublime, o “cello” de Morelenbaum nos coloca dentro de
cada verso com a mesma força emocional que faz com que nos sintamos partes
vivas de uma cena de teatro.
É hora de fazer uma fogueira na beira do rio e
contemplar o luar ao som de “Vento Veio Contar” (Guilherme Rondon/Zé Edu), com
participação especial de Gilson Espindola, que faz vocal e divide os versos com
Guilherme: a canção é uma pintura sonora, linda como uma paisagem pantaneira. Em
“Enxurrada” (Guilherme Rondon/Alexandre Lemos), destaca-se o lamento da gaita de
Micca, que ainda pilota a guitarra solo numa levada “pop” recheada de poesia. Quando
escrevemos ou falamos em música que vem do Pantanal, imediatamente somos
remetidos à sonoplastia de guarânias, polcas e chamamés de lá. Guilherme
Rondon, que domina com maestria a fusão de ritmos ternários da fronteira, vai
além dos limites pantaneiros – universalizando o regional, rompendo fronteiras com
a arte local.
“Pão
a gente faz para dividir/E a vida brota no grão”, diz a letra de “Pão pra dividir”
(Guilherme Rondon/Alexandre Lemos). Mais uma criação da dupla Rondon/Lemos:
“Entre o Rio e o Mar”, a riqueza sonora se sente na percussão que transborda e
nos envolve. “A Gente se Fala” (Guilherme Rondon/Alexandre Lemos) é
esplendorosa e dialoga com o som de Ivan Lins. Sua introdução tem a voz do
bandolim de Webster Santos. Guilherme, em parceira com Luiz Carlos Sá (da dupla
com Guarabyra), compôs a poética “Alma e Razão” e conta com o dueto de Américo
e Nando. A dor da separação é eternizada na canção “Mentira Não” (Guilherme
Rondon /Alexandre Lemos). O poeta mineiro Murilo Antunes rega a melodia de
Rondon com o poema matinal “Amor perfeito é só uma flor”. Para finalizar, “Nas
Ruas de São Paulo” e “ Rasta Feliz”, com participação especial de Barra da
Saia. CD indispensável.
Gosto muito da sonoridade pântano irá do Guilherme. Fiquei curioso. Vou procurar.
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