quarta-feira, 17 de maio de 2017

Melhor que seja raro


Edição e revisão: Marsel Botelho
                                                                                                                 

           As melodias de Rondon vestidas por parceiros poetas são verdadeiros balsamos para ouvidos aguçados





Entre tantos trabalhos maravilhosos que chegam para minha apreciação, abro o “sedex” que chega do Pantanal – Mato Grosso e, para minha alegria, é o novo CD do compositor, violonista e cantor paulista Guilherme Rondon, “Melhor Que Seja Raro”, recente álbum do músico, que foi criado em terras pantaneiras, lugar que escolheu para ser sua morada. Rondon é um criador de melodias e agregador de poetas que as vestem. O CD apresenta 13 temas e foi produzido pelo próprio músico em parceria com Alex Cavallieri.

“Brincadeira na beira do mundo/Quem não sabe não faça/Coração quanto mais é profundo a saudade não passa, é .../Nem sempre a verdade que o amor me diz me deixa feliz”: esses versos compõe a canção “Brincadeira na beira” (Guilherme Rondon e Alexandre Lemos), que abre o álbum.  Guilherme faz dueto com Léo Minax e nos convida a uma audição rica em melodia e poesia. A canção que dá título ao CD, denominada “Melhor Que Seja Rara” (Guilherme Rondon/Zélia Duncan), é de uma delicadeza única e nela os violões dão as boas-vindas com uma introdução que nos remete aos encantadores versos, poeticamente bem elaborados, de Duncan. Voz, piano, baixo e “cello”: esse refinado quarteto nos apresenta a bela “De Que Reino Sou Rei” (Guilherme Rondon/Iso Fischer). A interpretação de Rondon é sublime, o “cello” de Morelenbaum nos coloca dentro de cada verso com a mesma força emocional que faz com que nos sintamos partes vivas de uma cena de teatro.

 É hora de fazer uma fogueira na beira do rio e contemplar o luar ao som de “Vento Veio Contar” (Guilherme Rondon/Zé Edu), com participação especial de Gilson Espindola, que faz vocal e divide os versos com Guilherme: a canção é uma pintura sonora, linda como uma paisagem pantaneira. Em “Enxurrada” (Guilherme Rondon/Alexandre Lemos), destaca-se o lamento da gaita de Micca, que ainda pilota a guitarra solo numa levada “pop” recheada de poesia. Quando escrevemos ou falamos em música que vem do Pantanal, imediatamente somos remetidos à sonoplastia de guarânias, polcas e chamamés de lá. Guilherme Rondon, que domina com maestria a fusão de ritmos ternários da fronteira, vai além dos limites pantaneiros – universalizando o regional, rompendo fronteiras com a arte local.

“Pão a gente faz para dividir/E a vida brota no grão”, diz a letra de “Pão pra dividir” (Guilherme Rondon/Alexandre Lemos). Mais uma criação da dupla Rondon/Lemos: “Entre o Rio e o Mar”, a riqueza sonora se sente na percussão que transborda e nos envolve. “A Gente se Fala” (Guilherme Rondon/Alexandre Lemos) é esplendorosa e dialoga com o som de Ivan Lins. Sua introdução tem a voz do bandolim de Webster Santos. Guilherme, em parceira com Luiz Carlos Sá (da dupla com Guarabyra), compôs a poética “Alma e Razão” e conta com o dueto de Américo e Nando. A dor da separação é eternizada na canção “Mentira Não” (Guilherme Rondon /Alexandre Lemos). O poeta mineiro Murilo Antunes rega a melodia de Rondon com o poema matinal “Amor perfeito é só uma flor”. Para finalizar, “Nas Ruas de São Paulo” e “ Rasta Feliz”, com participação especial de Barra da Saia. CD indispensável.

Um comentário:

  1. Gosto muito da sonoridade pântano irá do Guilherme. Fiquei curioso. Vou procurar.

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