Edição e revisão: Marsel Botelho
Ela nasceu para cantar, ouvir seu canto é um presente dos deuses.
Na
vida e na arte estamos sempre propícios a encontros que se eternizam. Com a
cantora paulistana Daniela Alcarpe não foi diferente. Dona de uma voz que é um
verdadeiro bálsamo aos ouvidos, a cantora acaba de lançar seu terceiro álbum, “Eu
e Ela”. “Dani” mergulha na obra do compositor Joel Damasceno, no que chamo de
encontro de almas (música, poesia e voz). Com Arranjos e direção musical de
Robertinho de Carvalho, o CD, que está sendo lançado em todas as plataformas
digitais (e em breve no formato físico), apresenta 12 temas da farta safra do
compositor “brotense”.
Conheci
o canto da Daniela Alcarpe em meados de 2015, de logo, sua riqueza sonora
arrebatou-me o coração. Sua voz, de timbre refinado, acaricia-nos, seja qual
for o estilo de que se tecem os sons que nos deleitam. Esse “Encontro de Almas”
teve seu início em 2013, quando a cantora defendeu o chorinho “Dinda”, que foi
vencedor do festival “Botucanto”.
Daniela
Alcarpe é uma artista no mais inteiro teor semântico, ela não sobe ao palco
simplesmente para cantar: nele se completa e dá sentido cênico-musical à arte
da interpretação, com a qual funde sua intuição de atriz à voz de cantora em
cada momento de seu repertório, inegavelmente bem elaborado. Gravou seu
primeiro CD (“Que é que cê qué?”, 2009) e o segundo (“O Tempo salta”, 2013)
ambos com direção musical de João Marcondes. Desde os anos 60, o compositor Joel
Damasceno segue o curso de sua poética labuta de compor: aos 18 anos já se atirava
ao mundo pelo olhar mágico de suas canções. Não poderia ser diferente a
abertura do CD, teria de ser com o “chorinho”, que é a grande liga desse
encontro, “Dinda”. O compositor divide com a cantora os versos, em um dueto para
lá de especial. A segunda canção, “Computador”, é um “lamento”, em que Joel,
sutilmente, vai nos surpreendendo com aliterações vérsicas, afinal, a
modernidade é refém da máquina. A cantora nos brinda com uma interpretação brilhante,
que segue o ritmo dessas aliterações, no compasso do belo arranjo. Joel separou
de sua obra uma canção que nos permite viajar no reino da imaginação e resgatar
o menino que existe dentro de nós, assim é “Caixinha de Surpresas”.
O
cello, o piano, a voz de Dani e o som da flauta, em “Antes que a canção acabe”,
à poesia pedem passagem e convidam-nos ao passeio por saudades infinitas. Em
“Somos Um”, a cantora tem a participação especial de seu marido, Daniel Cukier,
com quem divide os vocais. Um bom samba se ouve em “Tô Feliz”. Literalmente os
amigos batem um papo musical em “Eu e Ela”, canção que dá título a esse
encontro. Uma marchinha, “Cicatrizes”, também veio contemplar o CD, que é, por
excelência, dedicado ao bom gosto. Daniela Alcarpe, “a dona da voz”, sabe
dominar os registros vocais em cada canção e canta, como quem doa, em cada
respiração, a nós, sortudos ouvintes, sua total sensibilidade.
Para
finalizar a audição, ouviremos “Cidade Minha”, “Até o Amanhecer” e “Sambista do
Metrô”. Resta-nos esperar o lançamento nos palcos do país. Vida longa a quem faz música de qualidade.
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