quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A inquietude musical de Chico Lobo


Edição e revisão: Marsel Botelho


                          Sua música é visceral  vem da terra e ele nos doa nas cordas de sua viola


Apenas um ano separa sua última produção fonográfica, “Cantiga de Violeiro”, da recente e badalada “Viola de Mutirão – do Sertão ao Mundo”, o que faz do compositor, poeta e violeiro, Chico Lobo, um inquieto artesão, que prepara sua viola, sua voz e sua poesia para nos encontrar na labuta da vida, nos doando paz, harmonia e melodia que cabem numa vida inteira. Décimo sexto álbum de uma carreira de mais de trinta anos, “Viola de Mutirão – do Sertão ao Mundo” tem 13 faixas, sendo duas releituras. Com produção e arranjos arrojados, além de participações especialíssimas, o álbum traz a qualidade do selo, gravadora e editora, Kuarup.

A audição desse álbum pede momentos a sós e momentos em louvação, “mutirão” com que a música os toma como parte dela, introjetando-os: Chico é um aglutinador e sabe o quanto sua música é convidativa. Abrindo o CD, ouviremos “Um Só Coração” (Kimura Filho/Chico Lobo), entre flautas e dedilhados de viola, paira um belo “vocalize”, entoado por Girlene Saldanha, que nos apresenta à bela canção. Música que dá título ao álbum. “Viola de Mutirão” (C.L), pela raiz de seu “baque”, é capaz de nos trazer à imaginação os contornos das grandes festas que celebram as boas colheitas: cheiro de terra, de frutos no palpitar dos batuques e eternos cateretês, que fazem a alegria do povo interiorano. Um dos grandes méritos que esse mineiro de São João Del Rei (MG) carrega em sua arte é a manutenção e a divulgação das culturas populares. Ouça “Catira Ligeira” (C.L) e mergulhe nesse ritmo mágico.

A primeira participação especial fica por conta do cantor e compositor Renato Teixeira, que divide os versos de “Meu Chão” (C.L) com Chico. Seguindo com as participações especiais, encontra-se a poética voz do cantor, poeta, escritor Paulinho Pedra Azul, que, junto ao amigo violeiro, exalam a canção, floreada por uma sanfona e candidata a uma das mais bonitas desse álbum, “Tempo de Colher” (C.L). Chico Lobo se debruça, com sua viola, diante de um dos mais belos clássicos da MPB e nos brinda com uma soberba interpretação na magnífica “Disparada” (Geraldo Vandré/Theo de Barros). Uma declaração de amor musicada é o que ouviremos em “Vontade de Ser Feliz” (C.L), destaque para o som que brota do violino de Bruno Silveira. − Sabe, quando digo ouvir só, refiro-me à canção “Maria” (C.L), escrita para ela e cantada por ela, Maria Bethânia.

Um verdadeiro festejo se ouve em “Batuque de Terreiro” (C.L). Com participação especial dos pernambucanos do Quinteto Violado, Chico canta “Acorde Brasileiro” (Marcelo Melo/Chico Lobo). Uma releitura de respeito e qualidade ouve-se na atemporal “Asa Branca” (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira): até então só o arranjo emblemático, feito pelo Quinteto Violado, havia me conquistado, mas esse, com a participação do violeiro João Araújo, “ficou show”! Para finalizar, ainda ouviremos “Sina” e “Cantiga de Bem”, ambas assinadas pelo artista.

Chico Lobo lança, nesta quinta, dia 15, esse maravilhoso álbum, no Palácio das Artes em Belo Horizonte, às 21 horas, com participação de Renato Teixeira, Quinteto Violado e João Araújo. Imperdível.

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