quarta-feira, 20 de abril de 2016

Leve

Edição e revisão:Patricia Chammas



  Não se sente a ausência das palavras.


              A série “Sem Palavras” terá minha crítica para os trabalhos instrumentais que são ricos, porém, pouco difundidos. Este canal abre as portas e dá voz para os artistas mostrarem suas criações. Apresento o CD “Suíte Encontros”, do compositor e violonista paraibano, José Ricardo, radicado em Guarulhos, SP. Produzido pelo próprio artista, o álbum contém 12 temas autorais e uma regravação. Foi financiado com recursos públicos do Funcultura – Fundo de Cultura da Prefeitura Municipal de Guarulhos.

            A música de José Ricardo é leve e nos conduz em seus movimentos. Ela não precisa de palavras para se expressar – quem a ouve torna-se parceiro, pois as palavras vão sendo tecidas a cada nota. Abra um bom vinho, feche seus olhos e deixe a música invadir seus poros. “Prelúdio”, de uma delicadeza única, abre o CD, e é dedicada à pianista e compositora Débora Gurgel, com quem o jovem violonista teve aulas. “Movimentos”, um tema em que o violonista mostra técnica apurada, é dedicado ao amigo, violonista e compositor, Vitor Castellano. “Recordação” merece uma letra igualmente bela, pois a melodia pede. O amigo e professor João Argolo foi o homenageado da vez.

            Uma das composições mais poéticas do CD é dedicada ao mestre Johann Sebastian Bach, com o movimento “Ala Bach”. Ela nos conduz por um bosque em plena primavera, cheio de aromas e cores. Ouvir um CD desse nível nos fortalece, pois representa os artistas que acreditam no que produzem. Essa é a verdade e a história dos que se entregam de corpo e alma à sua música. Como bom violonista que é, o autor não poderia deixar de fora o choro, tão tradicional nas rodas do instrumento. Assim, ouviremos “Dá Tempo!”, onde ele mostra habilidade e domínio das escalas. Em “Casa de Taipa” o músico utiliza elementos nordestinos do maracatu para nos agraciar. A sétima faixa é um presente aos nossos ouvidos, tão surrados diariamente. José Ricardo interpreta lindamente a melodia da “Oração de São Francisco” (Padre Casimiro Irala), podendo levar às lágrimas os menos avisados.

            A canção “O Peregrino” é dedicada ao compositor baiano Vidal França, assim como aos artistas que, como ele, caem na labuta com uma música que emociona e que tem caminhos muitas vezes dolorosos. A décima faixa, “Janeiro” (José Ricardo/Lula Canário) tem a participação especial do flautista Nelson Franca. A canção imprime o que há de mais belo no trabalho de José Ricardo: um convite ao banho na chuva, a subir na copa do imbuzeiro, ao beijo na mulher amada e a contemplar o nascer do sol. Em “Margem”, composta originalmente para violão e flauta, o tema emociona fortemente, num misto de alegria e tristeza. O artista, através de suas lembranças, volta à sua terra natal, a pequena Princesa Isabel, no sertão paraibano – terra também do lendário violonista Canhoto da Paraíba – para nos brindar com um baião ligeiro, quase um galope, “Entre Açudes”. Na penúltima faixa, “Baião de Três”, pra lá de bom. Para finalizar este primeiro de muitos, um genuíno arrasta pé: “Tema de Antônio Gerônimo". 



Um comentário:

  1. Só de ler a matéria já podemos sentir o "delicioso" trabalho José Ricardo ! Vou certamente escutar !!! Obrigada Dery pela matéria e nos trazer sempre o que há de melhor na nossa MPB !

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