quarta-feira, 29 de abril de 2015

Um disco para gente grande

Foto; Ana Dourado
Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


A música brasileira é, sem dúvida, a mais rica do Planeta em todos os quesitos. A cada dia ela nos oferece um cardápio sonoro de nos dar orgulho. Hoje apresento a cantora paulista Martina Marana, que estreia com o CD “Correnteza de Ar”. O álbum traz 12 temas, com direção da própria cantora em parceria com o pianista André Marques, que assina os arranjos em dez canções. André traz para o trabalho de Marana toda a sua vivência com o mestre Hermeto Pascoal e imprime essa marca no CD. O que iremos ouvir é algo muito sofisticado e de bom gosto, para ouvidos sensíveis, acostumados a degustar obras ricas em detalhes. Martina convidou o grupo Noneto de Casa, que enriqueceu o trabalho com o som dos seus metais.
Um belo samba, “Apaixonada” (Eduardo Gudin/J. Petrolino), abre esta audição, nos presenteando com um elaborado arranjo de metais na introdução, que dialoga com o vocalize da cantora. Uma ciranda praieira ouviremos no tema “As Mãos de Yemanjá” (Pedro Ivo/Diogo Brandão). Viaje na percussão peculiar desse ritmo. A música de Hermeto está declarada no arranjo feito para o tema “Canção Eólia” (Rodrigo Duarte/Martina Marana). Aqui a artista assina a letra que deu origem ao título do CD: “Vento, hálito santo/Veraneando/Veste meu corpo/Vem meu calor apaziguar/Diva, vagando ao longe vai-se a brisa/Vista de cima/E correnteza de ar”. O álbum apresenta o novo entre os compositores da nova MPB e uma cantora que se entrega de voz e alma, trazendo para seu trabalho o ousado tempero dos arranjos de André Marques.
Já ouvimos samba, ciranda e agora é hora de ouvir o baião “Som Distante” (Adriano Dias/Rogério Trentini). Impregnado de uma boa letra, mais uma vez a cantora mostra o que tem de mais marcante em seu trabalho: os arranjos, utilizando metais que emolduram sua voz. Martina é uma cantora de interpretação intensa e segura. A cada canção ela nos mostra a que veio. Ouça “Odoyá” (Henrique Tarrason) e tire suas conclusões.
Com arranjos de João Paulo Gonçalves, ouviremos a singela e poética “Chuva na Praia” (João Paulo Gonçalves/Lígia Moreli/Bruno Ribeiro). Imbuída de emoção a cantora se entrega aos versos: “O mar me devolveu a paz do amor/Flores Brancas e alfazemas/Deixo estar, me esqueço aqui/Que a dor se desfaz”. Agora a cantora visita a música pantaneira e, de lá, nos mostra que tem intimidade com o chamamé ao cantar “O Poeta e a Canção” (Pedro Ivo/Diogo Brandão). “Improvável” (Matheus Baraçal) é título que tem tudo a ver com o arranjo que ganhou. Impressionante. Com uma batida de marcha na introdução, o maracatu “Além Mar” (Rafael Martini/Leonora Weissmann) é apresentado. Diego Garbin assina os arranjos da bela “Última Valsa de Elis” (Nenê/Pedro Marques), que ganha da cantora uma interpretação grandiosa. Um disco para gente grande é o que ouviremos do começo ao fim. Para finalizar, mais duas canções com o carimbo de Martina Marana: “Festejo de Fé” (Frederico Demarca/Marcelo Fedrá) e o “Samba do Encontro” (Gustavo de Medeiros/Luísa Toller).

Um comentário:

  1. Mais uma joia rara de nossa música. Excelente voz num repertório muito bem escolhido. Valeu, Dery. Mais um presente pros nossos ouvidos.

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