quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Para ouvidos sensíveis

Foto: Alessandra Fratus
Agradecimentos Especiais a Patrícia Chammas


Certos CDs demandam um ritual específico na audição, pela qualidade poética e instrumental que apresentam. “O Tempo e o Branco”, sexto CD da cantora Consuelo de Paula, é um desses casos, que nos permite uma reflexão profunda e nos revela um mundo desconhecido entre o belo e o perfeito, o amor e o tempo. Consuelo é artesã, constrói poemas e os transforma em música. Produz, roteiriza e dirige suas crias para nos doar.
Acompanhada por Toninho Ferragutti (acordeon) e Neymar Dias (viola), Consuelo de Paula nos presenteia com 13 canções, sendo 11 em parceira com Rubens Nogueira (in memoriam). A poesia de Consuelo e a melodia de Rubens vão contagiar e roubar a lágrima retida de uma saudade.
Cecília Meireles foi a fonte de inspiração deste trabalho. A artista mergulhou nas águas cristalinas da poetiza para dar forma à sua obra. Quando escrevo que este trabalho é para ouvidos sensíveis, digo que seu som não se deve ouvir alto – há de se deixar a leveza de cada acorde penetrar os tímpanos e exalar na pele em forma de emoção. “Revoada” é a primeira canção que já nos arrebata. Na introdução traz um diálogo entre o acordeon e a viola, contemplando uma conversa imaginária entre Cecília e Consuelo. “Canto sol e ar/Eu canto para caminhar/Flor de sobreviver/Fazer correnteza/Recomeçar/E partir, virar poesia” dizem os versos de “A Flor do Arco-íris”, canção que a revela o ofício de passarinho, com seu canto que convida a passeios por sabores e fragrâncias.
Na terceira canção, “O Meu Lugar”, a artista nos atrai para seu quintal, seu pomar, seu terreiro. Consuelo busca no verso “Falar contigo pelo deserto” (C.M.) inspiração para escrever o poema “Entre Desertos”, que nos remete mais uma vez à sua morada, deixada para trás em busca do amor. A quinta canção nos envolve como um balé matinal. A beleza de seu poema se funde à melodia soprada pelo fole de Ferragutti e as cordas de Neymar em “Ente o Céu e a Terra”.
“Timbre” é a primeira canção do CD que a artista assina sozinha, com inspiração no poema “A Vizinha” (C.M.). Desafio os leitores dessas linhas se, ao ouvirem “Arte”, sétima canção deste brinde ao bom gosto, não forem tomados por uma forte emoção, a despejar um rio de lágrimas face afora. “Outro Lugar” – mais um momento rico em harmonia e poesia – foi inspirada em “Pela Flor Amarela Viajaremos” (C.M.). Essa excursão de Consuelo por caminhos cecilianos deve ser compartilhada entre nós, amantes da boa música. “Luiza” foi composta após o deleite da leitura de “Lua Adversa” (C.M). “Deve haver música em seus dedos/Um barco que navega ao longe”, canta emocionada na décima canção, “Cecílias e Dálias”. Com destaque para o belo arranjo, ouviremos “Sincera” (C.P.). “Testamento” faz um contraponto com “Herança” (C.M.) – descubra os caminhos. Para finalizar esse mergulho no universo de Cecília Meireles, a convite dessa fazedora de arte, ouviremos “Asa Ritmada”.
Quer saber mais sobre a artista minera e sua obra? Visite o site www.consuelodepaula.com.br.

6 comentários:

  1. Linda matéria !!! Dá para sentir a grandiosidade do trabalho em cada linha escrita ! Parabéns Dery Nascimento e a Consuelo de Paula pelo lindo trabalho !

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    1. Obrigada @Ana Luiza Rodrigues! Abraço imenso!!!! Salve Dery Nascimento! Consuelo de Paula

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  2. Coisa mais linda, Dery. Mais um presente do blog para nossos ouvidos.

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    1. Abraço grande @João de Deus! Viva Dery Nascimento! Consuelo de Paula

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  3. Lindo texto Dery Nascimento!!!!! Vive nele a revoada presente no CD! Abraço de ave.

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  4. Palavras "costuradas" com muito carinho, na mesma medida do maravilhoso trabalho da Consuelo de Paula!
    Parabéns, Dery Nascimento!

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