quarta-feira, 27 de agosto de 2014

“Sede”: uma ponte carioca para o nordeste

Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas



Elas literalmente dominam a cena musical deste país. A cada dia uma nova cantora surge mostrando sua arte como compositora ou como grande intérprete. Hoje nosso destaque vem da Cidade Maravilhosa. Claudia Amorim lança o terceiro CD, “Sede”, com produção do guitarrista baiano Perinho Santana que, infelizmente, veio a falecer seis meses após a finalização do álbum. Ele também assina dez dos 12 arranjos – as duas faixas finais foram arranjadas pelo maestro de Chico Buarque, o violonista Luiz Claudio Ramos.
“Sede” é um trabalho sofisticado, que nos permite passear por esta ponte que liga o suingue carioca aos ritmos nordestinos. Nele, Claudia nos mostra um misto de músicas inéditas da nova safra de compositores brasileiros com releituras de clássicos. Vale a audição.
Para abrir os trabalhos, um samba sincopado com uma levada tipicamente carioca, “Pandemia” (Mauro Aguiar/Mário Sève), onde a artista mostra que conhece do ofício. A segunda canção faz um convite à contemplação da orla fluminense, num passeio com seu amor, como diz a letra da canção “Para Pintar o Azul” (Perinho Santana/Luisa Nogueira): “O amor é simples/Pra inventar/Se você sente/Não tem que explicar”. O compositor Renato Piau musicou o poema “Amareluz” do poeta mato-grossense Manoel de Barros, cantado suavemente por Claudia, em dueto com o próprio Piau.
“Traga-me um copo d’água, tenho sede”, diz a letra do clássico “Tenho Sede” (Dominguinhos/Anastácia), com destaque para o arranjo de Perinho Santana. A sexta faixa, “Sonhoso” (Marco Jabu), é um afoxé que nos remete aos Filhos de Gandhi do carnaval baiano. Com um arranjo introdutivo que lembra o tango de Piazzolla, a cantora interpreta “Do Brasil”, do compositor mineiro Vander Lee.
Aumente o som, reúna todos no terreiro que é irresistível balançar o esqueleto ao som de “Ai, que Saudade” (Manassés Campos). Aqui a carioca mostra que tem talento suficiente para encarar um autêntico baião. Claudia começou bem sua carreira musical, tendo como padrinho Danilo Caymmi. “Meu Lado Esquerdo” (Zeca Costa), oitava canção, trás a temática do amor, cantada brilhantemente.
A cantora, que atuou durante cinco anos como backing vocal de Sandra de Sá, foi buscar nos Anos 80 a canção da amiga, “Demônio Colorido”, que fez parte do Festival da Nova Música Popular Brasileira. Claudia soube escolher o repertório de Sede – a décima canção, “Água Funda” (Simone Guimarães), é uma delicada poesia musicada que permite à cantora vagar liricamente e nos prova que tem domínio de graves, médios e agudos. O clássico “Você Vai Me Seguir”, dos mestres Chico Buarque e Ruy Guerra, ganha roupa nova com a voz da Claudia. Para finalizar a travessia dessa ponte, a gostosa “Zabelê” (Rud Jardim).
Depois de ser lançado em Genebra (Suíça), Stuttgart (Alemanha) e Paris (França), chegou a hora do Rio de Janeiro e das demais capitais e cidades do País conhecerem o trabalho. Para saber mais, acesse: www.claudiaamorimoficial.com.br.
A minha eu já saciei. E você, tem sede de que?

Um comentário:

  1. Dery, eu simplesmente amei!! Nao tenho palavras pra te agradecer, so se vc pudesse ver o meu olho cheio d'agua. Seu texto é claro, objetivo, direto mas pessoal. Informativo mas emotivo tambem. Vc foi uma das poucas pessoas que perceberam que a melodia do agua funda foi escolhida justamente pra mostrar que eu tenho graves, medios e principalmente agudos. O que vc falou foi justamente o que meu professor de canto me falou quando trabalhamos essa musica. Muito obrigada amigo. Nada como um cd resenhado ou criticado por quem entende realmente de música e canto e se propoe a ouvir o trabalho num som que valorize o disco. Brigada. abs claudia amorim

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