quarta-feira, 9 de julho de 2014

Ligiana, entre trilhas e clareiras

Foto: Vinicius Berger
Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


            Quantos cantores frequentaram cursos de canto em conservatórios renomados aqui no Brasil e mundo afora e foram desmotivados com a famosa frase “Você nunca vai conseguir cantar, desista”? O mesmo ocorreu com a cantora e compositora brasiliense Ligiana Costa que, após ser desencorajada por sua professora no conservatório Real de Haia (Holanda) mergulhou profundamente nos estudos musicais e concluiu mestrado e doutorado na Itália. Depois de cantar nas noites de Paris, retorna ao Brasil e, em 2009, lança seu primeiro CD, “De Amor e Mar”..
            Seu segundo álbum – intitulado “Floresta” em homenagem à avó, Floresta Pires Araújo – é um mergulho na poesia e na experimentação que a jovem artista vem desenvolvendo, já que no primeiro trabalho atuou mais como intérprete. Uma homenagem ao Maranhão, terra da avó, ouviremos também entre as 11 canções do CD, que foi gravado na Bahia, com arranjos e direção musical de Letieres Leite.
            A cantora não teve dúvida e, já na primeira faixa, “Malabares” (Ligiana Costa / Celso Araújo / Marcel Martins), disse a que veio: “Canto para quem cultiva carros e flores / Canto pros que plantam bananeira no asfalto / Calados no sinal, fechados num silêncio ambulante”. Na segunda canção, “Desperta” (Ligiana Costa / Juliana Kehl), temos um bom samba com uma introdução cheia de efeitos. Destaque para o piano Rhodes e a letra de apelo à reconciliação: “Eu não acredito agora que o sol deu pra ferver / Agora que o mar deu pra subir / Você não vai me procurar / Você não vai se arrepender / E voltar pro seu lugar”. Das vivências na França, a artista nos apresenta “Rouge” (Ligiana Costa / Lucas Paes). Com um arranjo moderno, experimental, tanto no instrumental como no vocal, a cantora assina a bela “Esmeralda”.
            Acho que Ligiana deveria mandar um CD autografado para a professora que a desclassificou, pois além de compor e cantar bem, também sabe pesquisar, como no caso da quinta canção, que é um canto tradicional de domínio público do Haiti, “La Mizè Pa Dous”. Uma das canções mais belas do CD, “Canção de Sousândrade” (Celso Araújo / Joaquim de Sousândrade), tem nas cordas o sentimento que vem da alma da cantora: uma mistura de melancolia com saudade do que não sabemos o que é. A sétima canção é um convite ao salão para dançarmos uma autêntica “Salsa Petrarca”, assinada pela artista.
            A oitava canção tem a rubrica de seu pai, Celso Araújo, na versão de “Vem a Primavera” (Pino Daniele). Aqui a cantora empresta a voz à Ligiana intérprete que, com emoção, permite-nos trafegar por ruas poéticas em busca do amor. Deixe as dissonâncias vocais e os ecos sonoros de “Corda e Mearim” (Ligiana Costa / Letieres Leite) lhe conduzirem entre os versos “A floresta quando chora / A floresta quando deita / A floresta quando implora / A floresta que incendeia / E que se banha entre dois rios / Que se abraçam em sua barra”.
            Finalizando essa viagem poética, ouviremos um boi maranhense, “Boi de Catirina” (Ronaldo Mota) e a linda parceria com Chico César em “Pássaro”.
            Simplesmente... continue a cantar.



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