quarta-feira, 2 de abril de 2014

Megatamainho de proporções gigantescas

Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


Uma panela de pressão cozinhando uma buchada – deve ser assim a cabeça efervescente desse cearense de 43 anos, um “fazedor de arte”. Consagrado no teatro, na telinha e na telona, Paulo Rogério da Silva, ou simplesmente, Gero Camilo, acaba de lançar seu segundo CD, intitulado “Megatamainho”. Produzido pelo maestro Bactéria “Bac” (ex-Mundo Livre S/A) e gravado no trecho Recife-São Paulo, o álbum conta com 12 faixas de gratas surpresas.
O típico Maracatu Nação que se ouve em “Catarina” (G.C.) é que dá boas-vindas a essa audição. Nele, Gero canta e declama e, junto com as meninas do Orquídea Brasil – presentes na maioria das faixas –, divide os vocais. A percussão feminina do Rumbanda ecoa na batida. Já na segunda faixa, surge uma parceria de peso com o baiano Luiz Caldas, na bela e metafórica “Meu Diadorim”. As duas músicas são suficientes para carimbar o passaporte desse artista inquieto pelo campo da música. Além de compor e escrever bem, ele também sabe usar os recursos da voz para poetizar o som que sai de suas entranhas.
“A Mensagem”, parceria com Rubi, nos mostra uma música de construção melódica interessante, passando pela lambada e pelo baião. Vale conferir. Com uma pegada rock, a candidata a hit, “Amor em Ode ao Sol” (Cristiano Karnas/Luís Miranda), nos apresenta um intérprete à altura da canção. Gero deve ter bebido forte nas fontes das baladas bregas dos nordestinos contemporâneos para compor a gostosa “Infinito” (G.C.). Um ponto de Umbanda se ouve em “Eboé” (G.C.). Aqui o artista mergulha de cabeça nas adorações afro-religiosas. Voz e percussão se fundem.
Em parceria com Vanessa da Mata, Camilo compõe o samba-canção “Cordel em Desacordo”, não deixando dúvidas de que o moço passeia bem por estilos diversos. Na cadência do maracatu, “Elixir de Cauim” (G.C.) mostra o compositor que traz o cheiro da terra em sua música, e a lembrança do grande Corisco na resistência aos macacos (soldados) durante o cangaço. Você que pensava que Criolo era apenas um rapper, está totalmente enganado. Gero grava do amigo um autêntico xote, “Chuchuzeiro”, convidando a todos para arrastar as chinelas em uma sala de reboco.
O amor se vestiu de poesia e é apresentado em duas formas: cantado por Gero e declamado por Otto na canção “O amor, a Fonte, a Poesia” (Gero Camilo/Otto) que nos faz mergulhar na melancolia de nossas histórias de desamor, de sofrimento, buscas e desejos. A imagem que me vem é a de um anoitecer no centro velho do Recife, tomando um conhaque em qualquer bar que me faça mergulhar em minhas lembranças.
Gero nos dá uma aula sobre humanidade – não importa quem somos, onde estamos e que posição social ocupamos. Em “Megatamainho” (G.C.) ele nos mostra tudo isso com seu reggae que dá título ao trabalho. Finalizando este CD, uma declaração de amor ao amor em “This is Love” (Gero Camilo/Rubi).
Gero é essa ebulição cultural, e quem ganha é o público amante da arte. Esse é mais um CD concebido de forma independente, mostrando-nos que é possível realizar quando se acredita em seus próprios sonhos.
O pequeno homem, de múltiplas artes, volta a nos surpreender.

Nenhum comentário:

Postar um comentário