quarta-feira, 7 de junho de 2017

Eletrônico, simples e poético


Edição e revisão: Marsel Botelho
                                                                                                                 

                                                                           A batida eletrônica com a batida do coração poético



Uma bela surpresa: entre os CDs/DVDs que recebo semanalmente para minha apreciação, encontro o “Projeto Lavadeiras” de Gedley Belchior Braga & Lina de Albuquerque. Ele é artista multimídia e professor de artes na Universidade Federal de São João del-Rei. Ela é jornalista e escritora. Ambos compuseram 14 faixas e 3 bônus, que são interpretadas por Helena Cutter, Misty do Brasil e David Pasqua, neste álbum de estreia, produzido pelo próprio Gedley e David Pasqua. Lina cuidou de escrever todas as letras e Gedley compôs as melodias, além de tocar sintetizadores e elaborar a concepção dos arranjos. David Pasqua: piano, baixo, teclados e programação. Helena canta 12 temas e Misty dois. Além do CD físico, podemos encontrar o projeto em todas as plataformas digitais.

Com as bases eletrônicas e uso de “samplers”, os temas foram construídos em uma sintonia perfeita. O uso da eletrônica serve como uma cama para as letras deitarem e acordarem sob as vozes de Helena, Misty e David, envolvendo o ouvinte e fazendo-o parte da história. Encontrei o Gedley em uma rede social e tivemos um papo rápido sobre o “Projeto Lavadeiras” e ele me disse: “Na verdade, quando eu e Lina começamos esse projeto no ‘MySpace’, queríamos que as músicas fossem gravadas por outros artistas, pois nenhum de nós dois é ‘músico’. Depois pensamos na produção de um CD, mas veio a crise, ninguém compra mais CD. De qualquer forma, eu tenho mais familiaridade com a eletrônica por ter estudado muito piano e ser apaixonado desde a adolescência por sintetizadores e coisas do gênero. E a ‘eletrônica’ nos permitiu reduzir os custos de estúdio também. Realmente o espírito do trabalho era deixar as canções sobressaírem...”

O “Projeto Lavadeiras” chegou com uma proposta de contar histórias emolduradas por uma poética simples, cuja plasticidade sonora criada por Gedley é sensivelmente aconchegante. “Desassossego” abre a audição: um piano marcando os acordes para a letra que transborda da voz de Helena Cutter e um refrão que registra cada compasso: “Essa tristeza só quer aumentar/O desejo de amar...” Em seguida uma homenagem à grande poetisa Adélia Prado que, como Gedley, é da cidade mineira de Divinópolis: “Viga do sonho.” A letra simula uma conversa entre uma cliente, Dona Adélia, e um vendedor de rimas, inusitadamente em uma “casa de construção”. Em “Beijo de Esquimó”, Lina brinca com a temática “fria/quente” e nos coloca no jogo. A “música do disco”, na minha concepção, é “Bordado”: sua poética envolve de uma forma que me emocionou muitas vezes; a música, inspirada no artista plástico Leonilson, filho de uma costureira, faz referência poética aos bordados que ela produz. “Papai Noel em Marte” também tem uma melodia linda, cativante: uma homenagem ao artista Nelson Leirner.

Fogo, água e ar compõem a tríade que Lina construiu em “Namorando o Ar”. Ainda ouviremos “Sinais de Jorge”, “Secreto”, “Música sem fim”, “Rascunho”, “Escolha”, “Todas as Saudades”, América errada” e “Panela de Pressão”. Que venha o segundo CD do “Projeto Lavadeiras”, que estreia com força total.

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