quarta-feira, 3 de maio de 2017

Belchior vive

Edição e revisão: Marsel Botelho
                                                                                                                 

                                                                             Suas canções são eternas




“Ele fez a viagem ouvindo música clássica.” Assim foi decretada a morte do Artista Belchior. Informação dada pela companheira Edna Prometeu à imprensa local de Santa Cruz do Sul (RS), cidade do interior gaúcho onde o cantor morava. Seu nome de registro era Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, conhecido por todos simplesmente como Belchior, um dos maiores expoentes da música brasileira, nascido em Sobral (Ceará) no dia 26 de outubro de 1946, terra natal também do humorista Renato Aragão. Sua linguagem poética destacava-se na lista dos jovens e talentosos artistas cearenses de sua geração que viriam a influenciar o cenário musical nacional por mais de duas décadas, cuja marca personalíssima da sonoridade que representava conquistou tanto nomes já consagrados, quanto as pessoas comuns.

Uma trajetória de mais de 40 anos de música viva dos setenta anos vividos. Antes de ir para a música, o jovem Belchior havia estudado Filosofia e Humanidades e cursava o quarto ano de medicina, quando, em 1971, resolveu se dedicar integralmente à música, sob protesto e reprovação provisória da família.

No Rio de Janeiro, no primeiro ano da década de 70, participou e venceu o IV Festival Universitário da MPB, com a canção “Na Hora do Almoço”, cantada por Jorge Melo e Jorge Teles. “No centro da sala, diante da mesa/No fundo do prato, comida e tristeza/A gente se olha, se toca e se cala/E se desentende no instante em que fala./Medo. Medo. Medo...” Música marco de sua estreia em disco pela gravadora Copacabana. Eis que em 1972 aparece Elis Regina na vida do compositor e grava a canção, feita em parceria com Fagner, “Mucuripe”. Durante a escolha de repertório para o “Show e LP Falso Brilhante” de 1976, Elis recebe a fita cassete com as músicas: “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”. As músicas gravadas por Elis apresentaram o compositor cearense ao Brasil. Fonte de pesquisa:Wikipédia

Lembro-me, ainda criança, época em que se costumava ouvir em casa muitos LPs na “radiola”, desse disco da Elis, que tocava muito. Logo o vinil do Belchior entrou na casa dos brasileiros, e de forma especial invadiria minha vida e a de tantos outros jovens da época. “Alucinação” foi um hino do fim dos anos 70 e meados dos anos 80. “Eu não estou interessado/Em nenhuma teoria/Em nenhuma fantasia/Nem no algo mais/Nem em tinta pro meu rosto/Ou oba oba, ou melodia/Para acompanhar bocejos/Sonhos matinais...” 

Das minhas memórias joviais do interior pernambucano em Palmares, um tema jamais foi esquecido: “Medo de Avião”, a canção tem uma certa magia e se fazia dela uma espécie de correio elegante nas festas: mandava-se, através do serviço de alto falante dos bailes, a música como dedicatória à jovem mais bonita da festa e, muitas vezes, elas nem chegavam a saber quem a ofereceu: “Foi por medo de avião/Que eu segurei pela primeira vez a tua mão/Um gole de conhaque/Aquele toque em teu cetim/Que coisa adolescente/James Dean.”

Inexoravelmente, o corpo se foi em 30 de abril de 2017, mas a música será perpetuada entre os viventes que por aqui estiverem. Sua obra será eterna. Descanse em paz, poeta.

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