quarta-feira, 3 de junho de 2015

Voz brasileira para o canto judaico

Foto: Ary Diesendruck
Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


Sons, línguas e culturas mixados no CD de Nicole Borger

A música não tem fronteiras, não tem moradia fixa, ela habita todos os lugares. Esta semana vamos conhecer a que vem de Ekaterinoslav (cidade russa), Nova Iorque e São Paulo, através da cantora e compositora paulistana Nicole Borger, que acabou de lançar seu sexto CD, “Raízes/Roots”.
O álbum traz 12 faixas e um remix. Foi gravado em Nova Iorque e tem assinatura nos arranjos e produção do maestro norte-americano Frank London. Nicole busca um diálogo com a música brasileira a partir de uma viagem musical às suas origens judaicas.
Neste trabalho a cantora comunga das duas culturas, provando que a música é universal: “Este não é um tratado sociológico, mas uma forma carinhosa de trazer um retrato desse povo nômade que se estabeleceu em diversas regiões do mundo, influenciando e sendo influenciado por outras culturas”, diz.
A audição abre com uma autêntica bossa, com direito a tamborim e cuíca. A voz marcante de Nicole passeia pelos acordes, ora em português, ora em inglês, na boa “Com Saúde”- Abi Gezunt (Abraham Elistein/Molly Picon).
A segunda canção, Passarinho, é autoral e foi baseada no poema Shlof Mayn Feigele, de Abraham Goldfaden (1840-1908), transformado pela cantora em um belo canto de ninar. O arranjo navega pelo fado, lembrando as raízes portuguesas de sua mãe. A cantora ainda entoa alguns versos em “iídiche” (língua ou dialeto alemão falado por populações judaicas do centro e leste da Europa, em especial Alemanha, Polônia, Ucrânia e Rússia).
Em “Quem que Sobra”- Ver Vet Blaybn (Zhenya Loptbik/Avrom Sutzkever), Nicole mescla o iídiche com o português. A quarta canção, “Batatas” - Bulbes (tradicional), tem um significado todo especial, como explica a cantora: “É uma música simples, que relata a experiência do imigrante recém-chegado da Europa, onde havia fome e se comia apenas batata, e se depara com tantas frutas brasileiras diferentes, com seus aromas e cores”. Destaque para o berimbau de Cyro Baptista.
“No Escuro”- In der Fintster (Zashe Landau) é música de melodia melancólica, porém, muito bonita.
Este CD nos mostra a beleza da canção judaica em conexão a música brasileira. “Ave Dourada” - Goldene Pave (Chava Alberstein/Anna Margolin) é prova disso. Um samba-canção se ouve em “Chuva” - Vem Der Regn Zipt In Droysn (Efim Chorny/Mendi Lifshits). Aqui, o solo de clarineta de Michel Winograd chama a atenção de forma especial.
O belo baião iídiche, “Dois Músicos” - Yidi Mitn Fidi (Abraham Elistein/Itsik Manger), apresenta um acordeon bem tocado. Só faltou uma “pegada” de zabumba, mas já vale ouvir o estilo numa língua inusitada.
Uma canção poética, de bela interpretação, ouviremos em “Talvez” - Zol  Zayn (Papernikov). Na sequência, mais duas belas composições tradicionais: “Ontem”, com uma percussão sutil, e “Cantando por Um Mundo Melhor”, com seu rico arranjo. Tem frevo também!
Vale conferir “Nova Dança” - De Nayer Sher (Abraham Elistein). Para finalizar, ouviremos o remix de “Batatas” (Norberto Vinhas/Moisés Santana).

Nenhum comentário:

Postar um comentário