quarta-feira, 24 de junho de 2015

A ilusão da liberdade

Foto: Edgar Bueno
Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


Críticas sociais e enlevos amorosos 
se alternam povoando as letras de Lugó

Entre milhares de artistas independentes que buscam afirmação e tentam dignamente mostrar seu trabalho, me deparo com o jovem cantor e compositor paulistano Márcio Lugó, que, numa trajetória de seis anos, nos apresenta sua segunda cria, “Liberdade Aparente”, CD bem recebido pela crítica especializada.
Produzido pelo artista e por Rafa Moraes, o álbum contém dez canções, sete delas assinadas pelo cantor. Os temas trabalhados por Lugó vão lhe conduzir por reflexões sociais, bem como pelos desamores quase inevitáveis da vida.
O segundo trabalho de todo artista gera grandes expectativas no público, que nem sempre são correspondidas. No caso de Márcio isso não se confirma – o CD chegou maduro, pronto para ser degustado e compartilhado, pela qualidade que apresenta.
Mergulhado no cotidiano das grandes metrópoles, o artista descreve muito bem como somos vigiados 24 horas por câmeras que flagram nossos passos, nossos delírios e anseios. A música que dá título ao CD, “Liberdade Aparente”, é a estampa de uma liberdade em foco.
A segunda canção, “Tsunami”, retrata os relacionamentos que, mesmo antes de começar, se acabam. Muitos vão se enxergar entre as curvas dessa melodia. A primeira composição, dividida com Tiago Tadeu, “Sou Assim”, mostra que o artista está pronto. Sua voz límpida como água de nascente nos conduz pela poesia da canção.
Um arranjo perfeito para um tema que fala de amor tem a moringa na marcação, um acordeon solene e um violão em prol da bela “Pra Durar”. Impossível ouvir uma única vez. Dividida com Helena Margarido, a crítica social de “Trégua” nos convida a uma reflexão. O artista foca de forma inteligente sua análise e, com um “sambão”, manda seu recado em “Promessas”.
Para mim, a canção mais bonita do CD, “Perguntas”, tem a poética impregnada em cada frase, e sua singela melodia nos convida a ser o personagem da canção: “Incerto, incompleto/À deriva no infinito/O impasse, o imprevisível/O estático falível/Perguntas que me trazem o sentido/Inerte inflexivo/Acuado e aflito/Mudanças não chegam sem motivos/O impulso o improviso/São rajadas de alívio/Pergunto e sinto que vivo/E quero mais e vou buscar/Eu vou”.
Com objetivos claros de abranger um público cada vez maior – o que já vem acontecendo –, Márcio Lugó diz: “Quero chegar e tocar as pessoas, fazê-las pensar diferente”. Sua música é autêntica, o que o coloca num patamar privilegiado. O álbum já ultrapassou mais de seis mil downloads.
Sonhei” é uma canção que fala de quem já viveu uma separação e fica se perguntado se a relação tem volta ou não. Muitos vão se identificar com ela. Em “Você”, é notável a influência do jovem artista pela música do já consagrado cantor e compositor pernambucano Lenine.
Para finalizar esta audição, uma canção cheia de efeitos e suingue e um arranjo de metais. Com uma boa sacada na composição, a música contempla em suas nuances o maracatu e a batida do berimbau para a roda de capoeira.
Vida longa a Márcio Lugó e sua mais recente cria!

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