quarta-feira, 1 de abril de 2015

Música e poesia no varal

Foto: Edgar Bueno
Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


Não existe escola melhor para o cantor, o instrumentista e até mesmo para o compositor, que as noites nos bares da vida, nos revelando um talento a cada dia. Assim também foi com o baiano de Jequié, atualmente radicado na capital paulista, Marco Vilane, que nos apresenta o seu terceiro CD, “Varal Diverso”. Composto por 13 faixas, o álbum faz parte do selo Pôr do Som, que preza pela qualidade da música brasileira. Como todo o bom músico nordestino, Vilane tem uma bagagem cultural de dar inveja, e nos mostra que ela está viva em sua música. Compositor de mão cheia, Marco está prestes a completar 15 anos de carreira entre shows e festivais. O álbum é um verdadeiro testamento de suas andanças; nele, o artista mostra uma roupagem contemporânea, de sonoridade atual, mas com o tempero do reencontro com a poesia nordestina clássica, aquela de outrora, dos tempos de menino. “Mesmo não parecendo, acho que este é o meu disco mais nordestino”, comenta o músico.
A primeira canção relata cenas das nossas ações e escolhas diárias: “A gente guarda tanto lixo em casa/A gente guarda e amontoa a raiva/A gente guarda o amor e ele se estraga/A gente guarda palavras caladas/A gente guarda”, dizem os versos de “Tralha” (Marco Vilane/Alex Sant’anna) que, como chiclete, gruda, de boa que é. Agora ouviremos o intérprete que se entrega para cantar os versos populares em “Dia de Feira” (Bira Marques/Jara Marques), canção que vai da leveza ao groove – destaque para o trombone de Bocato. Vilane mostra que também sabe fazer repente e, com Márcio Pazin, compõe “Truque de Menino”. A quarta faixa, “Fingido” (Marco Vilane/Alex Sant’anna), é uma canção recheada de poesia que nos remete às separações muitas vezes inevitáveis no amor. O diálogo entre as guitarras, violão e cello permite que a voz do cantor deslize com perfeição.
Em “Coronelismo” (Bira Marques/Jara Marques), acompanhado por um piano Rhodes e um cravo, o artista canta uma vinheta satirizando a atual situação política em que nos encontramos. A mistura da clarineta com uma percussão cheia de efeito e o baixo acústico dá o tom em “Criando Asa” (Marco Vilane/Edu Capello). Mais uma canção com Edu Capello, “Versa e Vice”, descreve aqueles relacionamentos “oito ou oitenta”, mas que, no fundo, se completam. Muito boa. Um afoxé de roupa nova é o que ouviremos em “Mandinga, Macumba, Novena” (M.V.). O poeta Vilane se entrega de corpo e alma, e declara seu amor em “Mar Inteiro”. “Ladainha” é outra vinheta, uma prece sem causa, uma canção-poema, em que o cello nos conduz.
Na sequência, em “Um Conto” (M.V.), o artista consegue misturar repente com embolada, groove com black music e tem a participação da banda londrina Saravah Soul. Aumenta o som e põe o esqueleto para balançar. Um cordel com rico vocabulário nordestino se ouve em “A Seta da Paixão” (Ito Moreno/Léo Nogueira), que traz um drumbass com solos de flauta doce e pífanos. Sensacional. Para finalizar, o bom “Samba de Já Ir” (Thiago Rocha/Márcio Lopes).

Um comentário:

  1. Muito bom o cara. A diversidade de ritmos e o belo instrumental criativo torna o disco uma coisa realmente muito especial. Nome pra se guardar com carinho.

    ResponderExcluir