terça-feira, 17 de março de 2015

Com o pé na estrada

Foto: Gal Oppido
Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


Muitas vezes o artista precisa de um tempo para sair de seu casulo, olhar fora dele e sentir que está na hora de pegar a estrada. Assim foi com o trompetista e cantor Marcos Bowie, que acaba de lançar seu primeiro CD, “Bom Como Beber Água”. Depois de mais de duas décadas participando de projetos como Karnak, Orquestra Paulista de Soul, Gangorra - Música para Crianças e ainda The Central Scrutinizer (Frank Zappa cover), chegou a hora de encarar de frente esse ofício tão prazeroso e, ao mesmo tempo, tão dolorido para quem faz a verdadeira arte, juntando música, poesia e interpretação.
Produzido por André Abujamra e Marcio Nigro, o álbum conta com 11 temas, sete deles revisitados pelo cantor. “O Bowie é o sabiá do Karnak, e agora começa seu trabalho solo para viajar pelo planeta e mostrar como é bom beber água... Tenho muito orgulho em estar ao lado desse cara que vai mostrar pro mundo sua voz maravilhosa”, diz o produtor, parceiro e amigo, André Abujamra.
Dono de uma voz cristalina, Bowie se entrega às canções para delas tirar o máximo e nos apresentar. Arranjos e sonoridade modernos moldam essa estreia, carimbando o passaporte deste, que conhece como poucos os caminhos a serem trilhados. A banda que gravou o CD reúne músicos de peso como Lulu Camargo (piano), Luiz Caldas (violão), Tuco Marcondes (violões e gaita), James Müller (percussão), Zéli Silva (baixo acústico) e ainda um quarteto de cordas com Fabio Tagliaferri (arranjos/viola), Alex Braga e Teco Scoss (violinos) e Patrícia Ribeiro (violoncelo).
“Ser um homem sensível nesse mundo requer muita coragem. E aqui estou eu com meu primeiro disco solo, enfrentando as durezas de nosso tempo para falar de amor. Não é só do amor romântico, mas de todos os amores e até dos quase amores: amor à vida, amor de mãe, de pai, amor próprio. Enfim, do amor vital como beber água, que revela a transparência do que sou, com leveza, e ao mesmo tempo me carrega junto e me faz cantar”, diz Marcos Bowie.
A canção que abre o CD, “Pescador” (Sérgio Cassiano), gravada originalmente em 1999 pelo extinto Mestre Ambrósio, ganha um arranjo moderno e bem “viagem” do mago André Abujamra, deixando a voz de Marcos deslizar na cama dos teclados de Marcio Nigro. Perfeita essa releitura. Marcos usou de versatilidade para escolher esse repertório rico, que caiu como uma luva na sua singela interpretação. Em “Vapor” (Kleber Albuquerque/Sandra Miyazawa), o cantor se apresenta de forma consistente à canção que parece que foi feita para ele. Com uma percussão rica e um naipe de cordas, o arranjo, mais uma vez assinado por Abujamra, faz a canção crescer, dando liberdade à interpretação de Bowie. “Common Uncommunicability” (Os Mulheres Negras) fez o cantor voltar na produtiva década de 1980.
“Bom Como Beber Água”, título escolhido pelo cantor, é uma homenagem à sua mãe, e é metáfora quando revela com leveza e transparência a jornada e personalidade do artista, costurando assim suas várias influências.
De Mauricio Pereira, o cantor solta a voz em “Florinda”. Acompanhado das cordas arranjadas por Fabio Tagliaferri, Bowie dá vida a “Palmeira do Deserto” (André Abujamra) e a “Deus” (Luiz Caldas). Além da interpretação precisa, o artista ainda toca trompete na bela “Colar de Prata” (André Abujamra/Diego Franco). Um canto solene, para um arranjo de cordas e um solo de trompete nos levam ao deleite na poesia sonora de “Nome das Coisas” (André Abujamra).
De volta aos Anos 1980, Bowie, acompanhado do violão dobro e da gaita de Tuco Marcondes, entoa os belos versos de “A Flor” (Fernando Figueiredo). “Me Love Me” (Fernando Salem/Emerson Leal) é um convite alucinante à dança libertadora e sem preconceito. Para finalizar esse primeiro de muitos que virão, Marcos Bowie doa a voz aos versos da ciranda praieira “Pedra e Areia”, de Lenine.
Apesar de estar longe de ser um novato, Bowie começa a trilhar seu próprio caminho agora. Fiquem atentos a esse nome e deixem sua música invadir sua casa; ela é boa e merece sua audição.

Um comentário:

  1. Acordar ao som de "Vapor" é muito bom. que música linda e como canta o Marcos Bowie. Voz perfeita. to louco pra ouvir as outras músicas do CD. Escolha super feliz para ilustrar o Planeta, Dery.

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