quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Quando o matuto é moderno

Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas



Em dezembro de 1999, quando gravaram seu primeiro CD, “Bojo Elétrico”, os músicos do Matuto Moderno não imaginariam ir tão longe, a ponto de chegar a comemorar 15 anos de estrada. Não que falte qualidade, pois isso é o que sobra a cada integrante da banda. É difícil em um país como o Brasil ver um grupo que faça integração entre a música caipira das modas de viola, a catira, passando pelo pagode e se encontrando no rock sem a preocupação óbvia de seguir um padrão estético.
Eles são: Ricardo Vignini (viola caipira elétrica), Marcelo Berzotti (baixo e voz), Douglas Las Casas (bateria), Zé Helder (viola caipira e voz), Edson Fontes (voz e catira) e André Rass (percussão). Com esse trabalho o grupo consegue inserir a cultura tradicional e resgatar para dentro dela os jovens – até mesmo os que não curtem a música caipira de raiz, já que os arranjos modernos acabam atraindo esse nicho do público.
Nesses 15 anos foram gravados cinco CDs. O último, intitulado “Matuto Moderno 5” foi gravado ao vivo em um sítio na cidade mineira de Pedralva, registrado da forma mais crua possível, resgatando a maneira como eram gravados os álbuns na década de 70. O álbum tem a produção assinada pelo Matuto Moderno, por Alexandre Fontanetti e André Ferraz. Com 10 faixas, o trabalho começou a ser gravado em três de setembro de 2011, literalmente na roça. Tudo e todos os planos se encaminhavam bem até o percussionista e cofundador da banda, Mingo Jacob, vir a falecer no dia 28 de julho, um mês antes do início das gravações. “Essa era a vontade do Mingo, então, o disco será dedicado a ele”, escreve Ricardo Vignini no encarte do CD.
O álbum abre com uma parceria entre Ricardo Vignini e o irreverente André Abujamra. Em “Topada”, a pedra é o tema central, que vai da beira do caminho até aquelas encontradas nos rins. Boa sacada para esse rock caipira. Com um vocal que lembra muito os irmãos Pena Branca e Xavantinho, “Eco Macaco” (R.Vignini) nos convida a uma reflexão profunda sobre nossa evolução. A típica moda de viola se ouve na boa “Mancacá” (M. Berzotti/Z. Helder/R.Vignini).
Matuto Moderno consegue nos envolver nesse som sertanês de avenidas emolduradas pelas cordas da viola sintetizada. Em “Escuro” (Paulo Nunes/R. Vignini) o destaque fica por conta dos efeitos que nos puxam para dentro de um rock com letra que nos questiona a todo o momento sobre nossa existência. Em “Rio Sepultado” (Z. Helder), além da aula sobre os peixes que deixaram de habitar nossos rios, se ouve um pouco de tudo, desde a moda de viola, passando pela “caixa de folia”, ao rock. Isso é Matuto Moderno: um rio imenso a ser navegado. Na sequência ainda ouviremos “O Tombo” (R. Vignini), “Recorte de Abater” (E. Fontes), “Fulaninha” (Z. Helder), “Caixa de Maribondo”, uma instrumental, (R. Vignini/Carlinhos Ferreira) e “Viola Fala, Alma Reza” (M. Berzotti).
Conheça o poder dessa alquimia boa no show da próxima sexta-feira, com direito a surpresas. 

SERVIÇO: Choperia do SESC Pompeia – 7 de novembro de 2014, às 21h30. 

Um comentário:

  1. Tive a oportunidade de ver por duas vezes o Ricardo e o Zé Heder com sua "Moda de Rock". Gênio puro. Pena não estar em São Paulo. De qualquer forma, bora correr a net atrás do Matuto Moderno.

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