quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Zé Kéti visitado em voz e violão

Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


A voz, o violão e a saudade de Zé Kéti (1921-1999) é o que se ouve neste mergulho nas 12 canções do compositor carioca aqui representado pelo cantor Augusto Martins e pelo violonista Marcel Powell, no CD “Violão, Voz e Zé Kéti” – mais um produto do selo e gravadora Kuarup. O sambista já havia sido homenageado em vida pelo cantor capixaba Zé Renato com o álbum “Natural do Rio de Janeiro”, de 1996. Acho de suma importância para a memória da música brasileira um resgate como este, visto que o repertório de Kéti é extremamente rico e merecedor de ser atualizado junto às novas gerações.
Zé Kéti, registrado José Flores de Jesus, foi um dos maiores compositores de samba que este país já conheceu. Portela de coração, começou a atuar na década de 1940 na ala dos compositores, mas deu à luz sua primeira marcha carnavalesca a partir do terceiro ano. Em 1951 obteve seu primeiro grande sucesso com o samba "Amor Passageiro", em parceria com Jorge Abdala, imortalizado por Linda Batista na gravadora RCA. Em 1955 sua carreira começou a deslanchar quando "A Voz do Morro", gravada por Jorge Goulart, com arranjo de Radamés Gnattali, se destacou na trilha do filme "Rio 40 Graus" (1955), de Nelson Pereira dos Santos. Outro sucesso nos anos cinquenta foi "Leviana", incluída no mesmo filme. Participou do espetáculo "Opinião", ao lado de João do Vale e Nara Leão em 1964. Nele, apresentou os temas "Opinião" e "Diz que Fui por Aí". Recebeu da Portela, em 1977, um troféu em reconhecimento ao seu trabalho. Em 1996 lançou o CD "75 Anos de Samba". Um ano antes de seu falecimento ganhou o Prêmio Shell pelo conjunto de sua obra: mais de 200 músicas lançadas.
Dono de uma voz grave e aveludada, e com técnica apurada, o cantor carioca Augusto Martins ganha o luxuoso acompanhamento do violão do também carioca Marcel Powell, filho e discípulo do inesquecível mestre Baden Powell. Nas 12 músicas constatamos a química certa entre a voz de Martins e os acordes que emanam das cordas de Powell. A batida tão tradicional da percussão aqui é trocada pelas que vêm de dentro do peito, acompanhando os dois músicos. O tamborim e até os naipes de metais parecem soar em algum lugar, mas ficam por conta de nossa imaginação. Essa dupla vai fazer você subir o morro na cadência dos sambas: “Diz que Fui por Aí” (Hortêncio Rocha/Zé Kéti), “Tamborim”, “Nega Dina”, “Opinião”, “A Flor do Lodo”, “Malvadeza Durão”, “Leviana”, “Madrugada”, “Acender as Velas”, “Máscara Negra” (Pereira Mattos/Zé Kéti), “Amor Passageiro” (Jorge Abdala/Zé Kéti) e “A Voz do Morro”.
Este não é apenas um CD de releituras – ele traz a essência de Zé Kéti. Não é necessário conhecer seu trabalho para sentir sua música cantada com primazia e tocada com requintes de clássicos. Sente-se no som o respeito pela obra que foi cuidadosamente desenvolvida, dos arranjos à capa, simples e original.
Um brinde a Augusto e Marcel, por nos presentearem com o bom samba da inesquecível voz que cantou o Carnaval e seus amores.

3 comentários:

  1. Lá do céu, Zé Keti deve estar emocionado com uma homenagem tão digna. Como caiu bem a voz do Augusto no violão Marcel. Que por sinal, em a mesma batida do pai, o maior violonista que existiu neste país de violonistas. Ótimo artigo, Dery. Excelente escolha. Gosto muito de ouvir samba antigo numa roupagem nova, coisa em que João Gilberto é mestre.

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    1. Oi, João!
      Também gostei bastante da dupla e curti ver as músicas do Zé Kéti outra vez em evidência.
      Você, sempre presente! Que bom!!
      Beijo :)
      Patrícia

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  2. Muito bom resgatarem esse trabalho lindo que o Zé Kéti nos deixou , Parabéns aos queridos Augusto Martins e Marcel Power pela iniciativa e escolha perfeita !

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