Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas
Somos obrigados a ouvir o que nossos ouvidos não querem durante o dia, à tarde e à noite. Sons de uma metrópole em ponto de combustão em nós são despejados. Indico o CD “De Mim”, do cantor pernambucano “Gonzaga Leal”, para limpar a sujeira sonora em nossos tímpanos. No oitavo CD da carreira do artista que nasceu com a incumbência de emocionar ao cantar, com 16 canções e duas citações, Leal conta com as participações especialíssimas de Cida Moreira e Marilia Medalha, além de Juliano Holanda, Públius e J. Velloso. Gonzaga é um interprete que veste a canção interpretada por sua voz com o frescor da brisa matinal, deixando o ouvinte com “vontade de quero mais”, porque tudo que é bom merece ser repetido.
Este CD não deve ter sua audição da forma tradicional e corriqueira - ele requer uma audição solitária, onde o ouvinte possa mergulhar nas nuances apresentadas nas faixas a seguir.
A primeira faixa é um convite a um mergulho em águas claras, em águas poéticas, em “Água Serenadas” (Déa Trancoso). Gonzaga, antes de dar vida nova à canção da compositora e cantora mineira Déa Trancoso, faz a citação “Vou na vida por inteiro/Vou enquanto ela durar/Sei que a vida vem primeiro/É a vida que eu tenho pra levar” (Vou na Vida – Swamy Jr./Virgínia Rosa). Um clarone dialoga com uma viola nordestina nos versos poéticos cantados por Gonzaga Leal em “Arco do Tempo” (Paulo César Pinheiro). Agora é a vez do clarinete, da voz e das cordas do violão de 7, e o lamento do cello na bela composição “Show” (Luiz Tatit/Fabio Tagliaferri).
Um dos sentimentos mais doloridos que um ser possa compartilhar é cantado de forma magistral aos sons de bandolim e viola nordestina, na poética “Da Saudade” (Públius). Ouviremos versos assim: “Não sabia que a saudade/Era tanta, desse jeito/E ao senti-la, cá no peito/Deixa o cedo bem mais tarde”. A canção brejeira de Mário Travassos, “Palavra Doce”, nos remete aos anos áureos dos cabarés. Gonzaga Leal e Cida Moreira fazem em um dueto pra lá de emocionante na poética “A Janela da Casa do Tempo” ( Públius/Chico Bizerra). Marília Medalha declama com emoção antes da faixa sete, “Voo Cego (Lula Queiroga/Yuri Queiroga). Uma canção embrenhada na poesia e no Maracatu se ouve em “Calmaria” (J. Velloso).
Uma verdadeira moda de viola se ouve com as participações de Juliano Holanda e Públius: “Ainda Bem que Hoje eu Trouxe a Viola” (Juliano Holanda). Leal visita a obra de Adriana Calcanhoto e grava “Você disse não lembrar”. O intérprete agora divide a parceria com Guito Argolo e J .Velloso na canção “Sonho Imaginoso”. A canção praieira de Junio Barreto, “Colarzinho de Pedra Azul”, nos convida a uma grande ciranda à beira mar, num rito de adoração. Um dos momentos mais marcantes e emocionantes se dá na faixa “Deusa da Lua”, domínio público adaptado e recolhido por Gonzaga, que tem a participação, tomada de emoção, de Marília Medalha. Deixe a emoção entrar poros adentro ao ouvir “Canção de Adeus” (Altay Veloso). Na abertura de “Sina de Passarinho” (Bruno Lins/Tonzinho), Leal faz a citação “Lenço de Violeiro” (Geraldo Maia/Rodrigues de Lima). Para finalizar, Gonzaga Leal empresta a sua voz para o samba “Que Falem de Mim” (Bidú Reis).
Se emociona, é porque é bom.
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