quarta-feira, 21 de maio de 2014

3 Brasis

Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas



Tem certos CDs que não podem faltar na coleção de quem é estudioso ou amante da boa música. O violeiro Chico Lobo, no auge dos seus 51 anos e 30 de carreia, nos presenteia com o álbum “3 Brasis”, dividindo a tarefa de nos emocionar com o violoncelista Márcio Malard e o clarinetista Paulo Sérgio Santos. Um encontro inusitado e marcante dos três músicos e seus instrumentos nos transporta pelos vários recônditos das terras brasilis. O trabalho é mais um produto fonográfico da gravadora Kuarup, que conta com 15 canções, 14 das quais o violeiro assina, exceto “Trenzinho do Caipira” (Heitor Villa Lobos).
Não se pode ouvir uma obra dessa magnitude de qualquer forma, tem de haver um ritual de preparação. Deixe a viola ditar aos seus ouvidos as palavras aqui sublimadas. Vamos descer rio abaixo, em uma canoa em noite de lua cheia, sentindo o frescor das águas – é o que sentimos ao ouvir a primeira canção, “Vazante”. A próxima música, “Desafio de Calango”, apresenta esse ritmo contagiante que vem do norte de Minas, o “calango”.
“Para mim, o diálogo que se estabeleceu entre minha viola, o cello de Márcio e a clarineta de Paulo tem gosto, cheiro, cor e som de Brasil, de 3 Brasis. Poder agora levar para o palco o resultado do CD é um prazer ainda maior, de dar brilho nos olhos. Foi uma experiência muito prazerosa a de ultrapassar meus limites de violeiro cantador e mergulhar de corpo e alma na música instrumental. Grande alegria, respeito e arte marcam este encontro. Vale a pena a vida de ser músico!”, diz Chico Lobo.
Uma das canções mais bonitas do CD nos remete a imersões em nossas lembranças. Nela, a clarineta dá as boas-vindas ao cello e o convida para um papo, enquanto a viola ponteia essa saudade. Tudo isso se ouve na solene “Serra das Araras”, local serrano do Rio onde nasceu a ideia dos 3 Brasis. Chico se inspirou na vegetação amarelada e nas ribeiras secas do Alentejo, que fica no sul de Portugal, para compor a bela “Agreste”.  Envolvente é o diálogo dos instrumentos em “Chapadão da Onça”.
Uma homenagem às violas de arame de Portugal que chegaram aqui no início da colonização se aprecia em “Ibérica”, num arranjo surpreendente. Agora é a vez de dedicar o ponteio da viola ao homem simples da roça que, ao fim de seu trabalho diário, puxa um cigarrinho de palha, ouvindo uma boa moda de viola. “Matuto” é para se ouvir à beira de uma fogueira. “Toque de Feira” é a oitava canção deste, e define muito bem o reboliço desses mercados a céu aberto pelos interiores desse mundão chamado Brasil. Não existe nada mais bonito que o céu e o luar interioranos, as estrelas brincado de apagar e sair riscando o céu. Um mergulho nostálgico se dá na audição de “Lua do Sertão”.
Cante a letra que lhe vier à cabeça ao ouvir “Estrada”. Ela permite. Reúna os amigos para conhecer “Chamamé”. A viola também tem seu reino. Em “Reinado” os trovadores com seus alaúdes a reverenciam. Um “Sapateio do Lundu” para saldar o Menino Jesus dá à viola a sua função sagrada. O “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, se mostra nitidamente em “Travessia do Sussuarão”. Para finalizar, um arranjo ímpar para o “Trenzinho do Caipira”.
“Chora, viola!”
O lançamento do álbum acontecerá em 29 de maio, às 21horas, no Cine Theatro Brasil Vallourec (BH).


Um comentário:

  1. Coisa mais linda esse trabalho instrumental do Chico, do Márcio e do Paulo. O texto tenta ao máximo traduzir essa beleza toda, mas, só ouvindo pra alcançar a magnitude do som. Vale a pena conferir em http://planetampb.blogspot.com.br/p/videos-do-artista-da-semana.html
    Grande abraço, Chico, e obrigada!!

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