terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Um casulo de sons e poemas

edição e revisão: Patrícia Chammas
Foto: Sylvia Sanchez









     Com a bênção de nomes consagrados da MPB, Jonavo imprime sua marca dentro do estilo folk





            A onda crescente com que o folk vem se propagando tem nos brindado com jovens talentos, além de nomes já consagrados como o mito Zé Geraldo. Hoje minha audição vai para o álbum Casulo, do compositor e cantor campo-grandense Jonavo, radicado em São Paulo há seis anos. O artista também faz parte do excelente trio Folk na Kombi, na companhia dos amigos Bezão e Felipe Câmara. Casulo é composto por dez temas e tem produção assinada por Wlajones Carvalho. Imbuída de sentimentos, a voz de Jonavo veste a canção para que ela se propague e chegue até nós.

            A audição começa com a música que dá título ao CD, Casulo (Jonavo/Diegomar), nos envolvendo já nos primeiros acordes e com uma letra que fala de separação, de um tempo em que se era feliz no lar. “Já doeu em mim/ Nem vou te contar/ Não fui eu enfim quem quis terminar/ Agora nós somos estranhos de uma longa história/ Eu te vejo passando como um filme em preto e branco, chiado”. Em Beijo Beijo (Jonavo) podemos dizer que o enredo do amor se repete, talvez com um final feliz. Com participação especialíssima do cantor e compositor Renato Teixeira, a canção Musicando o Vento faz uma justa homenagem ao compositor e cantor Geraldo Roca, falecido em 25 de dezembro de 2015. Roca, juntamente com Paulo Simões, é compositor da emblemática Trem do Pantanal.

          Agora é a vez de dividir o vocal coma a irmã, a atriz e cantora Mogena, na canção Slackline in Love (Jonavo). Em Bom Dia (Jonavo), o cantor relembra os bons tempos no Mato Grosso, da fauna e flora, e do amor à beira do Ribeirão de Baixo do Céu Azul. Jonavo empresta seu talento nato para interpretar a canção Envelhecer com Você (Fernando Paloni).
            Este é Jonavo, que deixou sua terra natal, chegou à Terra da Garoa montado no sonho, e com ele caminha pelos palcos. Seja com o Folk na Kombi ou em seus shows solo, esse jovem nos convida para dentro da canção e nos faz flutuar entre a melodia e a poesia. O disco é bom da primeira à última faixa. Ele mesmo me perguntou de qual música eu mais gostei. Respondi que Casulo é impactante na melodia e na poesia que a veste; há uma identificação com a história sonoramente contada aqui.

            O artista nos mostra na canção 180 Fios (Jonavo) a sensação de ver do alto de seu casulo, no 10º andar, a cidade de São Paulo, que está sempre em movimento. Sabe aquele momento de dizer o que se sente? Vamos ouvir na contagiante Barriga na Minha (Jonavo/Gustavo Mugnatto). A participação especial das belas da banda Corcel na música Caipira do Mato (Jonavo/Jenner Netto) dá um tempero mais que especial à composição. Fechando esse casulo de sons e poesias, ouviremos a badalada Livre, do sertanejo Sorocaba, aqui numa versão folk/rip hop e traz a participação especial do rapper Lauro Pirata. Vida longa ao Jonavo e a todos que fazem música que nos toca! A boa música existe, basta que nós a procuremos.

   Mande sugestões de pauta, faça sua crítica, ajude-nos a melhorar. Siga-nos no www.planetampb.blogspot.com.br.


            Serviço: Show Casulo. Dia 7 as 21 horas. Projeto Talento MPB, Bar Brahma. Av São João 677. Centro São Paulo

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A música exótica de Iasi Iaco


edição e revisão: Patrícia Chammas









     Álbum traz mix de estilos e inova com ousadia vocal




             Quando dois talentos se cruzam, pode esperar que algo magnífico saia desse encontro. Não foi diferente com Giovanni Iasi e Pedro Iaco que, juntos, formam a dupla Iasi Iaco e lançam o CD Rio Escuro, apresentando 14 faixas que são verdadeiras memórias musicadas. Iasi é o instrumento e Iaco, a voz. Voz que passeia por uma imensidão de registros como um simples respirar. A música que vem das cordas, ora do violão ou da viola de Iasi, ora das cordas vocais de Iaco, transita entre o popular e clássico, passeando por ritmos como o baião, o choro, a valsa, o blues, a seresta e o singelo canto de ninar. Produzido pelo violonista Emiliano Castro, o álbum ainda conta com as participações especiais de André Mehmari, Tiganá Santana, Fi Maróstica, Edu Ribeiro, e Douglas Alonso.

            A música Rio Escuro (Pedro Iaco), que dá nome ao disco, é uma declaração de amor ao pai, com quem o autor costumava pescar robalo em Ubatuba. Ele partiu quando Iaco ainda era criança, mas as memórias nunca foram apagadas. Fortes emoções vêm à tona, principalmente para quem também perdeu o pai na infância, como eu. Na segunda canção, Por Acaso (Giovanni Iasi/Alice Ruiz), o poema de Ruiz fala de encontro, e o violão de Iasi ganha acompanhamento de baixo e bateria, deixando a música mais bela do que já seria sem a chamada “cozinha”, responsável pela base rítmica do som. Em Be Bird (Giovanni Iasi/Joe Flood), com letra em inglês, Iaco passeia por seu amplo e privilegiado registro vocal, brinca com os intervalos e mostra domínio da letra, que fala de liberdade em cada voo.
            É de uma felicidade única poder ouvir e constatar que esses talentos são nossos, estão em nossos quintais, nossas calçadas, ruas, e muitas vezes não nos damos conta. A música brasileira pari todos os dias filhos como Iasi e Iaco, mas onde estão eles, senhora MPB? Não podemos esperar que a grande mídia os apresente. Tenho orgulho de poder semanalmente mostrar a vocês, que seguram este periódico, o que há de melhor nos quatros quantos deste país.

            Com participação de André Mehmari ao piano, Iaco desfila um vocalise na sua própria canção, Assombrosa, uma verdadeira aula de como colocar a voz a serviço da canção. O próximo tema, o instrumental Festança (Pedro Iaco), confirma que Iasi e Iaco realmente têm intimidade com as cordas. Nele ouviremos os violões de seis e sete dialogarem uma melodia. Iaco e uma kalimba eternizam Enquanto Dorme (Pedro Iaco), em apenas 22 segundos. Jumbalalão (Pedro Iaco) é uma singela canção de ninar. Sabe aquelas noites enluaradas que só o céu do interior é capaz de nos mostrar? É um retrato sonoro dessa serenata/samba-canção composta por Iasi e Gabiel Fiorito, de nome Pétala de Rosa. Pensando no mercado internacional, Iasi Iaco investem nos temas cantados em inglês. Agora é a vez de ouvirmos Chet Parker (Giovanni Iasi/Joe Flood). A voz grave e densa de Tiganá Santana contrasta com a delicada de Iaco em um belo dueto: Abismo (Iaco). Encerram essa maravilha, a letra psicografada por Iaco, Minha Viúva, e o vocalise para o avô de Iasi, Nani.
            Bálsamo aos ouvidos, água para a alma.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Todo Interior é Igual

edição e revisão: Patrícia Chammas









     A música brasileira bem cuidada por um trio de peso






          Temos a honra de sermos os primeiros a desvendar as nuances de um dos projetos musicais mais ricos e bem-elaborados dos últimos anos, apresentado por três artistas que somam amizade, melodia, e poesia no álbum ainda a ser lançado em CD neste primeiro semestre, mas já disponível nas plataformas digitais. Todo Interior é Igual reúne a cantora e sanfoneira Adriana Sanchez, (sanfona/ voz), Rafael Garga Altério (piano/ voz) e Guilherme Rondon (violão/ voz), cantado, tocando e nos presenteando com 12 canções. O álbum será lançado pela gravadora Radar Records.

            Este não é um disco qualquer, ele tem de ser escutado com entrega para não deixar nenhum detalhe se perder, pois trata-se de uma rica comunhão entres três artistas que têm carreiras distintas mas mergulharam juntos num ribeirão sonoro emergindo com o que há de bom e belo para os ouvidos mais sensíveis. Um diálogo entre a sanfona de Sanchez e o violão de Rondon já nos arrebata nos primeiros acordes. A voz suave da Adriana, a melódica de Guilherme e a carregada de sentimentos do mestre Garga nos convidam a ouvir Descendo a Estrada (Guilherme Rondon/ Alexandre Lemos). A segunda canção, Também Lembrei de Você (Guilherme Rondon/ Alexandre Lemos), já é conhecida do público de Rondon, pois foi gravada no disco Made in Pantanal 2012 (40 anos de carreira). Na versão 2018 a ouviremos num dueto entre Adriana e o cantor e compositor Pedro Altério (5 a Seco), que dividem versos assim: “Sem que nem porque lembrei de você/ E ouvi sua voz na minha cabeça/ Estranho eu achei mas claro que eu sei/ O amor nunca foi coisa que se esqueça”.

            Sabe aquele momento em que você tem de fechar os olhos e deixar as imagens penetrarem poros a dentro? Sim, elas te visitam quando você se entrega à audição de Lua Madrinha (Rafael Altério/ Rita Altério). A participação especialíssima da cantora portuguesa Susana Travassos na bela Hora Cortada (Guilherme Rondon/ Zé Edu Camargo) música originalmente gravada no álbum Três, de Guilherme, do ano de 2007, destaca-se o dueto da cantora com Rondon e o coro capitaneado por Rafael Altério. Em XI de Pirituba Santo André (Rafael Altério/ Kléber Albuquerque) senti falta do sacolejar do fole da Dri duelando com o piano, mas vale muito a interpretação do Garga. Mais um dueto de calar o coração: Adriana e Rondon em Feito Vento (Guilherme Rondon/ Alexandre Lemos). Em Seu Bordado (Guilherme Rondon/ Alexandre Lemos) o dueto fica por conta de Rafael e Guilherme. A música que dá nome ao disco e ao projeto, Todo Interior é Igual (Adriana Sanchez/ Alexandre Lemos), traz o solo vocal da Adriana e o vocal certeiro dos parceiros. Ainda se ouve: Horizonte (Guilherme Rondon/ Iso Fischer/ Paulo Simões), Dedo de Prosa (Rafael Altério/ Rita Altério), Rosa Cigana (Rafael Altério/ Cristina Saraiva) e Fogo no Tacho (Rafael Altério/ Celso Viáfora).

            Quer saber mais? Ouça pelas plataformas digitais ou aguarde o lançamento deste CD que já nasce clássico. Simplesmente belo.


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Em nossas casas,poesias e canções


edição e revisão: Patrícia Chammas

Foto: Gabriel Tarragô







     O amor cantado como deve ser






Caros leitores que amanhecem rumo ao trabalho e levam nas mãos as informações deste periódico, é com prazer que informo que, a partir de hoje, estaremos sempre juntos com o que há de melhor em nossa música. Foram seis anos às quartas feiras, esperamos chegar a esse número também às terças.
                Como é gratificante acordar e poder ouvir uma boa melodia, recheada de poesia, que enalteça a vontade de viver! O convite hoje é para conhecer o primeiro álbum do cantor e compositor Waldir Vera, que nos presenteia com o belo Em Casa. O álbum foi concebido através do edital EMAM – Estúdio Municipal de Áudio e Música da Secretaria de Cultura de Mogi das Cruzes, SP, produzido pelo próprio artista e por Paulo Henrique, o PH, e nos contempla com dez faixas. Mogi das Cruzes é uma cidade que respira cultura e, nela, Waldir e seus amigos Paulo Henrique, Rabicho, Aline Chiaradia, Xê Casanova, entre outros, produzem música com respeito a quem vai ouvir na sala de suas casas.

                Waldir é dono de uma voz encorpada de sentimento, perfeita para cantar o amor, a paz e suas vertentes. A audição começa com Folha da Paixão (W.V.), em que a poesia de Vera é acompanhada por um arranjo feito “a seis mãos”. O violino, assim como o canto, dialogam com o piano, vibrafone, sanfona e a percussão marcante. Na sequência ouve-se a bela parceria com Henrique Adib, a poética O que Será, que nos imprime versos assim: “Quem sou eu pra você, nos seus olhos de céu/ Uma estrela cadente, ou um nascer de sol...”. Na terceira faixa, Waldir apresenta o parceiro Julio Bellodi, que escreve a letra/poema Água Marinha.

                Com um arranjo vocal que nos conduz pela poética apresentada, o cantor desfila versos para uma declaração livre, de amor, em O Coração na Voz (W.V.). “Guarde o sorriso melhor, prá mim/ Faz transparecer no olhar...”. Em casa é uma verdadeira declaração de amor à vida, uma produção rica em arranjos, harmonias, melodias e a palavra em forma de poesia, que a mídia deveria tomar conhecimento. Vera se declara ora por suas palavras, ora por seus parceiros poetas. A sonoridade deste disco nos remete a imagens, a aromas a sabores...

                A quinta faixa, Vem, mostra que o compositor de melodias rebuscadas também tem intimidade com as palavras que brotam de seu coração na hora de dizer “te amo”. Segunda parceria no disco com Henrique Adib, Canção pra Ver o Mundo, nos mostra que não há o que fazer sem o amor. “Daqui desse lugar/ O teu olhar me lembra o sol/ A iluminar meu coração”, diz o poema da canção O Sol do Teu Olhar (Waldir Vera/ Julio Bellodi). Waldir é esse cara que canta com emoção, compõe com o coração e não está na lista dos melhores CDs de 2017, sabe por quê? Sua música tem qualidade. Para encerrar essa audição rica em detalhes poéticos sonoros, ainda se ouve Verso, Rima ou Poema, Fonte da Canção e São José (Waldir Vera/ Henrique Adib). Para saber mais e comprar o CD, acesse: www.waldirvera.com.br

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Um açude de paixões


edição e revisão: Patrícia Chammas







     Túlio e as vertentes das paixões em poesia e canções.



                 A primeira matéria do ano é um mergulho no límpido açude de paixões do músico, compositor e cantor brasiliense, Túlio Borges, que acaba de lançar seu terceiro álbum, “Cutuca Meu Peito Incutucável”. Enviado pelo próprio artista, o CD me fisgou no primeiro acorde, proporcionando-me uma viagem que me levaria a uma enxurrada de boas lembranças impregnadas no meu imaginário. O cheiro da terra molhada, os banhos nas alvoradas, nos açudes do meu sertão. Ouvi inteiro, sem respirar, para não perder nem uma nuance, pois Túlio Borges nos convida a deitar sobre a poesia nordestina na qual suas raízes estão cravadas. Produzido e arranjado pelo artista, o disco tem oito faixas em que ele fala de coração, seus amores e todas as entrelinhas das paixões. Acompanhado de uma seleção de músicos que tem o saudoso percussionista maranhense Papete, Rafael dos Anjos, Victor Angeleas, Pedro Vasconcellos, Junior Ferreira, Oswaldo Amorim, Valério Xavier, Aldo Justo, Caloro e Sérgio Duboc. A capa e arte gráfica são assinadas pela artista plástica alemã Tina Berning.

                “Cutuca Meu Peito Incutucável” é o segundo álbum de uma trilogia que começou com o CD “Batente de Pau de Casarão”, de 2015. A ambientação sonora, instrumentação e a veia poética nordestina também ouve-se aqui.
                O disco abre e fecha com uma parceria riquíssima de sons e palavras entre Túlio e o poeta paraibano, o visceral Jessier Quirino. Na primeira, “Contracachimbo da Paz”, Túlio dá asas ao poema que recebera do amigo. Aqui ouviremos como tema, o amor que desfaz, que angustia, que machuca a alma; a voz solene vestida de uma sonoridade rica em detalhes percussivos. Na sequência temos uma parceria do artista com a cantora e compositora Ana Reis: “Concreto, Amor e Canção”, falando de desilusões. A cantora divide os vocais com Túlio, nos acariciando os tímpanos com esse bálsamo sonoro. Depois de vivenciar uma imagem de uma bela em praça pública, o poeta Túlio coloca no papel seus desejos aflorados. Com citação à música “Fogo e Paixão”, do saudoso Wando, a parceria com o compositor e cantor paraibano Afonso Gadelha “Ela Levantou os Braços e Eu Morri de Amores” é um xote/reggae que nos conduz para um açude de desejos a nos banhar de poesia. “Eita, quanto tempo o teu cheiro fica em minha boca/Parece que meu coração encontrou onde morar”, diz a letra do xote “Curvas” do poeta e cantor Zeto, que ganha de Túlio uma interpretação recheada de emoção.

                Com apresentação do poeta brasiliense Renato Fino no encarte do CD, que escreve sobre a paixão, fico com as frases a seguir: “E se paixão for veneno, bote uma dose aí/ A Paixão é humana/É Desumana/Feita de punhal e plumas/Dentes e unhas/É feita de pólvora a paixão/Não é coisa de gente/De pessoa, mulher ou homem...”  Ainda ouviremos “Grandes Olhos” (Aldo Justo/Alexandre Marino), “Cantiga” dos irmãos Clodo e Clésio Ferreira, “Vem Não” parceria com Climério Ferreira, e fecho esta rica audição com “Enxerida  no Contexto”, parceria com Jessier Quirino.
                    Que venha logo o terceiro dessa trilogia nordestina de poesia e canção. Um dos melhores que ouvi nos últimos anos!