quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Um açude de paixões


edição e revisão: Patrícia Chammas







     Túlio e as vertentes das paixões em poesia e canções.



                 A primeira matéria do ano é um mergulho no límpido açude de paixões do músico, compositor e cantor brasiliense, Túlio Borges, que acaba de lançar seu terceiro álbum, “Cutuca Meu Peito Incutucável”. Enviado pelo próprio artista, o CD me fisgou no primeiro acorde, proporcionando-me uma viagem que me levaria a uma enxurrada de boas lembranças impregnadas no meu imaginário. O cheiro da terra molhada, os banhos nas alvoradas, nos açudes do meu sertão. Ouvi inteiro, sem respirar, para não perder nem uma nuance, pois Túlio Borges nos convida a deitar sobre a poesia nordestina na qual suas raízes estão cravadas. Produzido e arranjado pelo artista, o disco tem oito faixas em que ele fala de coração, seus amores e todas as entrelinhas das paixões. Acompanhado de uma seleção de músicos que tem o saudoso percussionista maranhense Papete, Rafael dos Anjos, Victor Angeleas, Pedro Vasconcellos, Junior Ferreira, Oswaldo Amorim, Valério Xavier, Aldo Justo, Caloro e Sérgio Duboc. A capa e arte gráfica são assinadas pela artista plástica alemã Tina Berning.

                “Cutuca Meu Peito Incutucável” é o segundo álbum de uma trilogia que começou com o CD “Batente de Pau de Casarão”, de 2015. A ambientação sonora, instrumentação e a veia poética nordestina também ouve-se aqui.
                O disco abre e fecha com uma parceria riquíssima de sons e palavras entre Túlio e o poeta paraibano, o visceral Jessier Quirino. Na primeira, “Contracachimbo da Paz”, Túlio dá asas ao poema que recebera do amigo. Aqui ouviremos como tema, o amor que desfaz, que angustia, que machuca a alma; a voz solene vestida de uma sonoridade rica em detalhes percussivos. Na sequência temos uma parceria do artista com a cantora e compositora Ana Reis: “Concreto, Amor e Canção”, falando de desilusões. A cantora divide os vocais com Túlio, nos acariciando os tímpanos com esse bálsamo sonoro. Depois de vivenciar uma imagem de uma bela em praça pública, o poeta Túlio coloca no papel seus desejos aflorados. Com citação à música “Fogo e Paixão”, do saudoso Wando, a parceria com o compositor e cantor paraibano Afonso Gadelha “Ela Levantou os Braços e Eu Morri de Amores” é um xote/reggae que nos conduz para um açude de desejos a nos banhar de poesia. “Eita, quanto tempo o teu cheiro fica em minha boca/Parece que meu coração encontrou onde morar”, diz a letra do xote “Curvas” do poeta e cantor Zeto, que ganha de Túlio uma interpretação recheada de emoção.

                Com apresentação do poeta brasiliense Renato Fino no encarte do CD, que escreve sobre a paixão, fico com as frases a seguir: “E se paixão for veneno, bote uma dose aí/ A Paixão é humana/É Desumana/Feita de punhal e plumas/Dentes e unhas/É feita de pólvora a paixão/Não é coisa de gente/De pessoa, mulher ou homem...”  Ainda ouviremos “Grandes Olhos” (Aldo Justo/Alexandre Marino), “Cantiga” dos irmãos Clodo e Clésio Ferreira, “Vem Não” parceria com Climério Ferreira, e fecho esta rica audição com “Enxerida  no Contexto”, parceria com Jessier Quirino.
                    Que venha logo o terceiro dessa trilogia nordestina de poesia e canção. Um dos melhores que ouvi nos últimos anos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário