quarta-feira, 7 de maio de 2014

Do útero de Três Pontas

Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas



            Situada ao sul de Minas, Três Pontas é uma cidade que ganhou fama por acolher como filho o carioca mais mineiro de que se tem notícia: Milton Nascimento. É de lá que vem o destaque desta semana, o jovem músico e compositor, Hugo Branquinho, que adotou a capital paulista para morar e também para o parto do seu primeiro CD, intitulado “Embrião”. Produzido por seu irmão, Heitor Branquinho, também cantor e compositor, o CD conta com 11 canções e a participação especial de Milton Nascimento em “Antônio”.
            Minas transborda novos talentos a cada dia, e Três Pontas tem gerado uma galera jovem que o próprio Milton já gravou em seu último CD, “E a Gente Sonhando”, de 2010.
            Hugo apresenta a primeira música, “Sonhar” (Thales Mendonça/Hugo Branquinho), dizendo em seus versos: “Nunca deixe o nunca te segurar/Não deixe de sonhar”. O cantor, dono de um timbre singular – uma voz doce, sem ser melosa –, põe o pé na estrada mostrando que pode ir além das montanhas de Minas. Na segunda faixa, “Sol, Lua e Um Pouco de Céu” (Thales Mendonça/Hugo Branquinho), além de cantar, Hugo costura a melodia à linha da flauta transversal, tocada por ele mesmo. A música nos convida a andarmos descalços sob o céu azul de Três Pontas e permite um mergulho na poesia.
            Hugo divide os vocais com Milton Nascimento ao cantar o amor ao filho “Antônio” (H.B.) – bela melodia e arranjo para o pequeno que acabou de chegar. A música também vem de encontro ao título deste primeiro CD. Uma parceria emocionante entre os irmãos Branquinho se ouve em “Melhorar”. Nesta canção, num justo desabafo, eles descrevem o retorno à, até então, pacata Três Pontas que, com a evolução dos tempos, também mudou, deixando os próprios filhos da terra inseguros ao caminharem pelas ruas que os viram crescer. Uma das canções mais belas, “Aguar” (Thales Mendonça/Hugo e Heitor Branquinho), tem letra e melodia cantadas pelos irmãos, e o belo bandolim do músico paulista Deni Domenico dá o tom campestre, o cheiro de terra molhada.
            Um diálogo entre o piano elétrico de Débora Gurgel e o baixo de Heitor Branquinho se ouve em “Afogado” (Hugo Branquinho/Enrique Aue). As serras que os meninos Hugo, Heitor e sua geração de amigos desvendaram, agora são imortalizadas nessa canção que imprime saudade e vida: “Nossa Serra” (H.B.). É só fechar os olhos e se transportar para os montes das Gerais... A religiosidade do povo mineiro não poderia ficar de fora deste primeiro CD de muitos com que esse jovem compositor ainda deve nos presentear. “Igreja Laranja” (Thales Mendonça/Hugo Branquinho) é simplesmente bela.
            Uma construção melódica, harmônica e rítmica diferenciada veremos em “Fragmentos” (Thales Mendonça/Hugo Branquinho), que mistura a moda de viola a outras cadências. Hugo Branquinho também passeia bem por ritmos como o samba. Prova disso é a boa interpretação em “Pela Avenida” (Hugo Branquinho/Rafael Guerche). Destaque para o piano da Débora Gurgel. Finalizando a audição deste embrião, em “Ao Nosso Amor” (H.B.) o artista declara seu sentimento à amada Marina, numa bossa matinal.
            
            Seja bem-vindo ao rol dos que fazem trabalho de gente grande neste nosso cenário musical!

Um comentário:

  1. Olha minha Minas Gerais em destaque novamente. Deu vontade de ouvir só pelos nomes das músicas. E quanta poesia nas letras. Ótimo artigo, Dery.

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