quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Devoção

Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas


A fé do povo do Jequitinhonha, sua religiosidade e o culto aos orixás, aos santos e à Virgem Maria é o que ouviremos com o Coral das Lavadeiras de Almenara e seu mentor Carlos Farias. Doze anos depois de lançar o primeiro CD-Livro “Batukim Brasileiro”, o coral apresenta seu terceiro álbum: “Devoção”. Queridos leitores, lembro-me como se fosse hoje, em meados de 2002, quando ouvi pela primeira vez o canto das Lavadeiras, fui tomado pela emoção. Hoje, passados tantos anos, a emoção de ouvi-las foi ainda mais forte.
O projeto Coral das Lavadeiras teve início em 1991, sob a coordenação do cantor e pesquisador cultural, Carlos Farias. Trata-se de um dos mais importantes grupos culturais brasileiros, reconhecido e aplaudido em nosso país e no exterior. O grupo é considerado parte do patrimônio cultural imaterial do País e exemplo bem-sucedido de transformação social através da arte.
Para ouvir “Devoção” é necessário um ritual de silêncio, de concentração, de busca e de troca. Essas mulheres são guardiãs de cantigas e de rezas seculares trazidas pelas águas cristalinas do velho “Jequi”. Com a proteção dos deuses das canções, iremos iniciar os trabalhos com “Aldeia Real” (D.P. – adaptação de Carlos Farias). O piano de Zé Geraldo é a moldura para o solo de Valdênia Lavadeira, arrancando lágrimas dos olhos, já na primeira faixa, com versos assim: “Eu tava na minha aldeia real/ Catando pena debaixo de uns arvoredo/ Veio a polícia pra levar todas aldeia/ Leva a matéria que eu não sou prisioneiro”. Diga qual dessas toadas não emocionam, que eu tentarei não chorar. A segunda do CD é uma canção para elas, que encantam ao cantar: com participação especialíssima de João Bá, o grupo entoa “Lavadeiras do Jequitinhonha” (João Bá/Celso Freire/Nádia Campos). Na bela composição, “Estiagem” (Juracy Lavadeira), são cantados o tempo de estiagem e seus efeitos.
Carlos Farias adaptou um canto das religiões afro recebendo mensagem especial de espírito de luz ancestral em “Oxossi e Xangô” (D.P.). Com a marcação de um bombo leguero e um sino, e em rito de procissão, as lavadeiras louvam a “Santo Benedito” (D.P. – adaptado por Carlos Farias). Sanráh faz participação especial em “Mãezinha foi pro riacho” (Sanráh/Bruno Lopes). Nela, as lavadeiras entoam versos assim: “Mãezinha foi pro riacho/ Sereno do amanhecer/ Menino Jesus abençoa/ A fulô do meu bem querer”. Na sequência, mais uma adaptação de domínio público, “Cheirou Guiné” – magnífica. As próximas canções são todas de domínio público, recolhidas por Farias. “Se pedir eu dou”, “Sambando com Adélia” e “Chora Mãe Gerona” são temas que nos fazem viajar, literalmente. Um dos momentos mais belos deste é ouvir Giulia Rodrigues, uma criança de seis anos, cantar a “Canção do Urubu” (D.P.). Para finalizar esta audição emocionante, “Águas de Almenara” (Ziolita Almeida/Ulisses Abreu) e as rezas e bendições tradicionais em “Rezando com Tereza”.
Para saber mais, acesse: www.coraldaslavadeiras.com.br.
Show imperdível!
Serviço: Coral das Lavadeiras do Jequitinhonha e Carlos Farias convidam Saulo Laranjeira e João Bá.

SESC Pompeia – Sábado, 1/2, às 21h e domingo, 2/2, às 19h

Um comentário:

  1. Prezado amigo Dery Nascimento, nós lhe agradecemos pelo excelente texto e pelo apoio ao nosso projeto. Abraços musicais!

    Coral das Lavadeiras e Carlos Farias

    ResponderExcluir