edição e revisão: Marsel Botelho
O som pulsa no peito altivo
Impossível
ficar parado. Esta é a sensação ao se ouvir os primeiros acordes do CD ou do
vinil Madurar da banda paulista Samuca e a Selva, selo YB Music. O álbum
nos brinda com 12 canções produzidas por Marcos Mauricio, articulando a mistura
da crônica poética urbana aos ritmos regionais baião e ijexá, adicionando a
estes a influência de gêneros mais universais como jazz, salsa, soul e afrobeat, uma pluralidade sonora
vigorosa. Formado pelo cantor e compositor Samuel Samuca, o coletivo Samuca e a Selva é fruto da união de um
grupo de músicos que tem no currículo diversos projetos de sucesso na cena da
música contemporânea de São Paulo: Victor Fão, Bio Bonato, Fabio Prior e
Guilherme Nakata (da Nomade Orquestra), Thiago Buda (ex-membro do Bixiga 70),
Felipe Pippeta (da OBMJ), Allan Spirandelli e Kiko Bonato (do Ba-boom), além de
Lucas Coimbra, teclados e acordeom. Desde 2014, a trupe vem conquistando novos
públicos e a crítica especializada.
Aumente
o som, pois faremos um passeio filosófico e rítmico entre contos urbanos e
histórias cotidianas. A voz de Samuca e o naipe dos metais se entrelaçam no
compasso da batera, na marcação
pulsante do baixo, no sacolejar do fole e na cama harmônica do teclado. Bem-vindos
à selva! Abrindo a audição, em 14 segundos, Vai
inicia a trama dos arranjos para que os metais anunciem a música que dá título
ao álbum, Madurar (Samuel
Samuca/Rodolfo Dox Lacerda). Límpida como cristal é a fluidez do cotejo entre o
afrobeat e o filosofar da letra com
as coisas da fé. Em Pobre do Bento
(Samuel Samuca/Rodolfo Dox Lacerda), a narrativa é taxativa: “Não tinha teto
pra chamar de lar/Não tinha roupa bonita/Não tinha fita/Não tinha mais/Sorria
com peso de um pesar...” A percussão avisa: o ijexá é forte.
A
música do disco para este escriba é Afobado
Peito Altivo (S. S). Desde a primeira audição, ela me disse algo que eu não
sabia bem o que era, até descobrir uma alegre saudade imensa povoando o peito.
Os metais são soberanos e os solos de sax e guitarra fecham com chave de ouro,
arpejos para intensos sentimentos. Em Detergente,
(S.S), a salsa emolda os dilemas das coisas do coração. O soul, numa mescla de inglês e português, esparze a pulsação de À Beça (S.S), destaque para os solos de
trompete, órgão e guitarra. Em Guará
(Samuel Samuca/Thiago Buda/Allan Spirandelli), a vida do pequeno Samuel faz-se
presente em toda nota. Impossível a galera não saracotear cada átomo em Coco Docê (S.S). “Fiz o meu jardim na
tua cama/Tu só não cansa/De pisar na grama...”, diz a
letra de
Flores Raras (Rodolfo Dox
Lacerda/Bruno Parola/Dani Agrelli).
Uma
bela guarânia se ouve em Pantanal
Paraguayo (Samuel Samuca/Rodolfo Dox Lacerda/BrunoParola). Esperanza (Bem-vindo à Selva), de Samuel
Samuca e Kiko Bonato, o tema põe em discussão o alerta sobre o desequilíbrio no
ecossistema da selva de pedra, com as
participações especiais de Thiago França (saxofone) e Maurício Fleury (órgão
farfisa). Fechando a audição, a instrumental Pantanal (Samuel Samuca/Rodolfo Dox Lacerda/BrunoParola) dá ao ar
da graça amazônia o nome. Que venham outros álbuns. Esse é bom demais.
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