Edição e revisão: Marsel Botelho
A viola de Vignini fala.
Acabou
de sair do forno, para o nosso deleite, o novo CD “Rebento” do violeiro,
compositor pesquisador e professor Ricardo Vignini. O álbum já nasce com “status”
de clássico e com a obrigatoriedade de fazer parte da discoteca de quem
mergulha na imensidão da boa música instrumental vinda das cordas de uma viola.
O CD conta com 13 faixas, sendo 10 autorais e três em parceria. A pluralidade
da obra vai da moda de viola ao “rock” progressivo. Próximo de três décadas de
carreira, Vignini tem cinco álbuns com a banda Matuto Moderno e dois discos com
o duo Moda de Rock. Sua primeira produção autoral data de 2010 e tem o título
“Na Zoada do Arame”. Ricardo tem uma
agenda cheia, seja com a banda Matuto Moderno, ou com o Moda de Rock (em
parceria com o violeiro Zé Helder), além dos inúmeros convites de grandes nomes
de nossa música. Participou do mais recente trabalho de Lenine, “Carbono”, e se
apresentou com o músico no Rock in Rio 2016.
Para
ouvir esse CD, uma boa dica é fechar os olhos e seguir viagem por trilhas
minuciosas de sons, que além da sensação peculiar do prazer acústico, cada
efeito instrumental consegue desenhar uma paisagem psíquica cheia de detalhes
que a própria intuição constrói: trata-se de uma energia criativa que rompe as
fronteiras do inconsciente coletivo, uma energia pulsional-musical vibrante,
verdadeira catarse. A linguagem do “bluegrass” é reescrita em cada nota da
viola em “O Bonde dos Fontes” (R.V), que traz a participação de André Rass (percussão).
Na sequência, “Trevo” (R.V). Os amigos Rafael Schimidt (violão) e Marcelo
Berzotti (baixo) participam de “Cateretê” (R.V). Hendrix não poderia ficar de
fora dessa trilha: ganhou do amigo violeiro uma homenagem, “Beijando o céu”
(R.V), que teve a participação especialíssima do guitarrista pernambucano da
banda Nação Zumbi, Lúcio Maia.
Agora
é a vez de ouvir o baião “Pé Vermelho”, que tem a gaita de Sergio Duarte no diálogo
entre o pandeiro do mestre Marcos Suzano e a viola de Ricardo: transbordam uma
energia visceral e um talentoso arranjo. Se seu Luiz Lua Gonzaga fosse vivo, certamente
diria: “Eita bixiga lixa”, expressão do Nordeste que se define em “Coisa boa
demais”. Mais uma que vai de encontro à “word music” e ao Rock progressivo: “BR
116” (R.V), que está mais para uma “pinckfloydiana”. Excepcional dueto de “cello”
de Bruno Cerroni com a viola de Vignini na viajante “Indiana” (R.V). A primeira
parceria do CD é com o pianista Ari Borger, que a faz dueto na poética “Ventos de Novembro”
(R. Vignini/Ari Borger). Depois se ouve “Saúvas e Quenquéns” (R. Vignini), que
tem a participação de Ricardo Carneiro. Olha aí os ritmos populares, dos
sertões e das caatingas, que põe todos para dançar o xaxado moderno “Se Xaxando”
(R.V), participação especial de André Rass (Percussão) e Fernando Nunes (Baixo).
Ainda tem “Cedro” (R.V), “Lua da Colheita” (R. Vignini /Christiaan Oyens) e
“Cariri” (R.V). Impossível parar de ouvir esse trabalho renovador, que vem impulsionar o mercado da música instrumental de
qualidade, feita com competência e sensibilidade. Procurem nas melhores lojas
do ramo e nas plataformas digitais.
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