quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Poesia do morro e do mar carioca

Foto: Rafaela Amodeo
Edição e revisão: Patrícia Chammas


Sem um estilo definido, músico agrada em CD solo

Podemos atravessar os quatro cantos do País e iremos perceber que se produz com qualidade samba no sul, baião no centro-oeste, rock no nordeste, cirandas e cocos no sudeste, ou seja, a música brasileira não é regional, ela se faz e se ouve num mix incrível onde quer que se vá.
Quando se fala de um compositor carioca, logo se pensa num bom samba de partido alto ou coisa do tipo.
Hoje nossa coluna destaca um compositor e cantor que nasceu em berço de samba. Alvinho Lancellotti lança seu primeiro trabalho solo: “O tempo faz a gente ter esses encantos”. O CD traz dez canções assinadas pelo artista, exceto a canção “Antena”, que tem a parceria dividida com o irmão, Domenico Lancellotti.
Depois de passar cinco anos à frente da banda Fino Coletivo, onde, além de ser um dos compositores, também era vocalista, Lancellotti nos apresenta um álbum que vai na contramão do que foi produzido com essa banda, que fazia um som dançante, cheio de energia. Aqui ele extrai a poesia das canções e nos presenteia com uma sonoridade leve, porém, profunda.
A ideia é envolver o público em um universo de poesia que apresenta diversas faces da nossa cultura. São canções que trazem temas do cotidiano com abordagens cheias de sutilezas.
“Minhas músicas são simples, procuramos mantê-las desse jeito. Sambas, afoxés, mornas, pontos, cirandas... Tudo feito de maneira ‘irresponsável’, desde sua concepção, sem se apegar a rótulos. E as influências sonoras para esse contexto, é claro, vão muito além do regional”, diz o artista.
Suavidade, poesia e soltura marcam a sonoridade da faixa “Sexta-feira”. Dedicada a um dos dias mais esperados da semana, a canção soa como um haikai, e nos envolve com versos simples: “É beleza/Boa gente encontrar/Contagia ver o povo dançar/Sexta-feira é dia de se enfeitar”.
A segunda canção, “Alegria da Gente”, faz o artista se reencontrar com seu berço e recria um bom samba para se ouvir em roda de amigos. Com uma introdução que nos remete ao velho western e seu faroeste, a bela “Vidigal” mistura cavaquinho e o violão flamenco, num convite a subir o morro na cadência do inesquecível Cartola.
Com a benção de Clara Nunes, o artista segue as veredas do canto afro e nos doa “Gira de Cabloco”, ora soando como uma ciranda praieira, ora como um ponto de Umbanda. Vale apreciar o diálogo entre os violões. Louvando o aconchego que é um colo de mãe, Alvinho canta seu mantra “É Mamãe”.
Quase um canto solene, um estandarte de carnaval ou uma declaração de amor se ouve em “Meu Bloco de Amor”. Quem ouviu Alvinho no Fino Coletivo vai mergulhar no mar calmo da canção “Antena”. A caixa de maracatu avisa que o bloco vai passar e o cantor traz com seu canto o auxílio do som orgânico do cello, violões, agogô, surdo, e cowbel, na canção “Vazio”.
Para finalizar, em “São Tomé”, com um coro feminino o artista deixa registrado seu primeiro filho sonoro, e deixa claro que muitos virão.

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