quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Revivendo "Taperoá"

Agradecimentos especiais a Patrícia Chammas



O papel que a gravadora e selo Kuarup vem desenvolvendo junto à memória da música brasileira tem de ser respeitado e aplaudido por todos nós, estudiosos ou leigos, que temos a música em comum. Desta vez eles trazem de volta ao mercado o segundo álbum do paraibano Vital Farias, “Taperoá”, lançando originalmente em 1980. Ele, que gosta de ser chamado de “O Cantador”, com certeza é um dos mais importantes multiartistas nacionais.
Vital tem em sua discografia cinco álbuns autorais e dois em parceria com Elomar, Xangai e Geraldo Azevedo – os famosos “Cantoria l e ll”. Farias é de suma importância para música brasileira, pois sua arte tem a poesia que vem da terra e o lirismo dos grandes cantadores. Suas músicas recebem uma infinidade de regravações, aqui e no exterior. Para quem não sabe, o artista, que era autodidata no violão, chegou ao Rio de Janeiro em 1975 e, em 1976, fez vestibular para faculdade de música, concluindo os estudos em 1981.
Vital é um compositor de mão cheia, de harmonias elaboradas e letras que são verdadeiros poemas. “Taperoá”, nome que dá título a este relançamento, é uma homenagem à sua terra natal e o vinil – hoje CD – é dedicado à sua mãe, Dona Olívia. Poder reviver esta obra, 34 anos depois, nos permite voltar no tempo e nos debruçar sobre os arranjos e sobre o que se passava, na época, na cabeça deste, que é uma verdadeira usina de criação. Na primeira canção, “Pra Você Gostar de Mim” (V.F.), a letra nos permite refletir sobre o amor, que não se compra, nem se vende: “Porque o que você precisa/Não se pode comprar”. Com arranjo de cordas e regência assinados pelo próprio Vital, a segunda canção, “Eu Sabia, Sabiá” (Vital Farias/Jomar Souto), apresenta os versos: “Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá/A gente que aqui campeia/Também luta como lá”.
Com uma verdadeira seleção de bons músicos, este LP/CD teve a participação mais que especial de Maurício Einhorn e sua gaita na terceira canção, “Assim Diziam as Almas” (V.F.). Já em “Nave Mãe” (V.F.), ouviremos o arranjo de cordas e regência de José Alves de Souza, mas o destaque vai para a guitarra portuguesa de Manassés. E não é que o paraibano também é bom de frevo? Ouça “(Tudo Vai Bem) Nós Sofre mais Nós Goza”. Oswaldinho do Acordeon deixa sua marca na magnífica “Repente Paulista” (V.F.).
A cantoria é selada em nosso peito ao ouvirmos “Tema de Beija-flor” (Vital Farias/Gavião). A canção “Veja (Margarida)” (V.F.), a mais conhecida do álbum, tem centenas de regravações e foi imortalizada na voz de Elba Ramalho, gravada no mesmo ano do LP original de Farias. O Vital intérprete se destaca em uma das canções mais belas do CD, “Meu Coração por Dentro” (Herman Torres/Salgado Maranhão). Um instrumental curto, mas cheio de personalidade, se ouve em “General da Banda” (V.F.). Para finalizar esta obra de arte, “Prazer Pelo Avesso” (Vital Farias/Salgado Maranhão).
Que este açude de emoção possa ser mergulhado por todos e que a Kuarup continue a nos presentear, resgatando outras pérolas dessa grandeza.

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