quarta-feira, 12 de agosto de 2015

“Ao Sertano” e a todos nós

Foto: Monica Koester_bx
edição e revisão: Patrícia Chammas


Ele acompanhou o nascimento das obras e hoje as executa
numa extensão do trabalho do pai

Diz o ditado popular: “filho de peixe, peixinho é”. No caso, ser filho do príncipe da caatinga, Elomar Figueira Mello, é carregar consigo uma carga genética de peso, de traços marcantes; é ter como lastro uma obra de caráter único e inconfundível.
Assim foi e é a vida do jovem maestro arranjador, compositor e instrumentista, João Omar de Carvalho Mello, que está lançando seu segundo CD, “Ao Sertano”.
O álbum traz 13 peças eruditas inspiradas no sertão do semiárido nordestino, compostas apenas para o violão. Guardadas há anos nos arquivos de Elomar, elas nunca foram gravadas. João apresenta o concerto dentro da série “Quintas Musicais”, inserida na programação que acompanha a “Ocupação Elomar”, mostra em cartaz até 23 de agosto sobre a vida e obra de seu pai.
O concerto homônimo ao CD abre com a peça “Trabalhadores na Destoca”, que trata da preparação da terra para o plantio. A segunda obra, “Batuque no Panela”, reporta às proximidades de onde vive o pai e traz elementos rítmicos presentes no sertão baiano.
Já “Calundú e Cacorê”, que vem na sequência, com ares melancólicos expressa o estado de espírito do tropeiro em sua labuta solitária. É a mais antiga das peças compostas de “Ao Sertano”, iniciada por Elomar aos 17 anos e retomada por ele na década de 1980.
Os arranjos de “Joana Vai Chiquerá Minhas Cabra” remetem ao recolher do rebanho de cabras para o chiqueiro ao final do dia. Inspirada em uma conversa com Turíbio Santos, quando em visita à sua fazenda, a Casa dos Carneiros, a peça “A Fome” discorre sobre a possível origem do nome “guitarra” e as transformações que o instrumento sofreu ao longo dos séculos.
“Prelúdio nº Sexto” traz temperos estilísticos do violão “villa-lobiano”, uma das fontes onde bebe Elomar. Seguindo a ordem de inspirações eruditas, “Estudo nº Único” é uma ironia aos inúmeros e complexos estudos existentes em torno da composição para violão. Elomar, como se quisesse negar os arautos acadêmicos, registra nessa peça a sua única versão de estudo sobre o tema.
A penúltima música que João Omar apresenta é “Duvê, esse chã quema meus pé”, retrato de um momento de lamentação e resignação pela inclemência do clima do sertão.
Encerrando o concerto, a animada “São João Xaxado” transpõe mais uma vez uma parte do sertão baiano, agora no recorte de um cotidiano mais próximo dos paulistas: as festas típicas de São João, animadas pelo trio nordestino – sanfona, triângulo e zabumba.
Na mistura da simplicidade com a erudição, ainda dentro da máxima do que o peixinho herda do peixe, João traz a todos, do sertão aos grandes centros, da terra batida ao concreto, o encantamento e a força da aridez da caatinga, em melodias e harmonias.


SERVIÇO

João Omar – lançamento de “Ao Sertano” | Quintas Musicais
Dia 13 de agosto (quinta-feira), às 20h

Sala Itaú Cultural (249 lugares) | Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô

Fones: (11) 2168-1776/1777
Entrada franca (ingressos distribuídos com 30 minutos de antecedência)

Um comentário:

  1. Elomar é uma figura fantástica. Muito bom ver o filho seguindo os passos do pai ilustre. Pena não poder assistir o show.

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